Título: Fiesp reúne setores com atrito e quer mediar acordo com indústria vizinha
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2004, Brasil, p. A3

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) reúne amanhã representantes do setores que mais enfrentam atritos no comércio bilateral entre Brasil e Argentina: eletrodomésticos, têxteis, calçados e automotivo. O presidente da entidade, Paulo Skaf, tentará convencer esses empresários a negociar em conjunto com entidades representantes da indústria argentina, como a UIA (União da Indústria Argentina). Skaf foi incumbido dessa missão pelos ministros das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e da Argentina, Rafael Bielsa, durante jantar realizado no dia 14 de outubro, no Hotel Emiliano, em São Paulo. Na ocasião, foi formada a Coalizão Empresarial Brasileiro-Argentina. De acordo com Christian Lohbauer, gerente de relações internacionais da Fiesp, a iniciativa faz parte da "agenda positiva" proposta pelo governo e o objetivo é iniciar um diálogo entre as indústrias de Brasil e Argentina. "Dessa maneira, a discussão pode se tornar muito mais ampla e atingir os problemas macroeconômicos", ressalta Lohbauer. Enquanto as conversas setoriais estão focadas em cotas e no tamanho dos respectivos mercados, a negociação entre representantes da indústria poderá abordar problemas como diferenças de acesso a crédito, financiamento, taxas de juros ou escala de produção. É exatamente nas questões macroeconômicas que estão as maiores reclamações dos argentinos, e o governo brasileiro acredita que esse ponto esteja na raiz dos problemas comerciais entre os dois países. A reunião de amanhã é apenas uma primeira etapa na qual a Fiesp quer aprender sobre as especificidades dos problemas de cada setor. Caso a idéia seja aceita pelos representantes das associações de classe, a Fiesp poderá até se tornar um interlocutor mais forte na hora de cobrar posições do governo federal. Embora tenham confirmado presença na reunião da entidade, os representantes das entidades de cada setor vêem a idéia com reservas. "Toda a ajuda é bem-vinda", diz o dirigente de uma entidade. "Mas acho que cada setor tem que tocar sua própria negociação", completa. Também há questionamentos sobre a legitimidade da Fiesp, que é uma representação da indústria paulista, para defender os interesses de exportadores de outros Estados. Hoje as negociações entre Brasil e Argentina estão sendo conduzidas pelo comitê de monitoramento do Mercosul, que, pelo lado brasileiro, é comandado pelo Ministério do Desenvolvimento. A iniciativa da Fiesp não substituiria esse comitê, mas apenas somaria esforços. Desde o jantar em São Paulo, o governo brasileiro e o argentino passaram a buscar uma nova via de diálogo com a indústria dos dois países. Para tanto, reuniram naquela ocasião empresários com negócios em diversos setores.