Título: Alguns sacadores foram indicados pela Usiminas, diz sócio de Valério
Autor: Ricardo Balthazar e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2005, Política, p. A6

O publicitário Cristiano de Mello Paz, sócio do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza na agência de propaganda SMP&B, admitiu ontem que alguns dos políticos que receberam recursos repassados por Valério foram indicados pela Usiminas, companhia que há vários anos tem contrato de publicidade com a agência. Paz foi ouvido em sessão conjunta das CPIs dos Correios e do Mensalão. Paz explicou que o presidente da companhia siderúrgica, Rinaldo Campos Soares, costuma receber "trinta, quarenta propostas políticas" durante campanhas eleitorais e "manda passar todas para a agência". Mesmo assim, a exemplo do que Valério fez em depoimentos anteriores, Paz fez questão de livrar a Usiminas de responsabilidade pelas contribuições. "A decisão (de apoiar os candidatos) foi tomada dentro da agência", disse. Paz fez a revelação ao ser interrogado pelo deputado João Correia (PMDB-AC), mas não se alongou sobre o tema porque o parlamentar mudou de assunto sem pedir mais esclarecimentos. É a primeira vez que alguém ligado a Valério admite alguma participação da Usiminas no esquema montado por Valério para financiar partidos políticos. Levantamentos feitos pela CPI e entrevistas dos beneficiários do esquema sugerem que pelo menos R$ 866 mil reais foram repassados por Valério a pedido da Usiminas nas eleições municipais do ano passado. Os beneficiários desses recursos incluem dois deputados federais, Roberto Brant (PFL-MG) e Romeu Queiroz (PTB-MG). A Usiminas tem evitado se manifestar sobre o assunto desde que os indícios do seu envolvimento surgiram. Valério tem se esforçado para desmentir os políticos que apontaram o dedo para a Usiminas ao serem flagrados entre os beneficiários do esquema. "Entendo que o deputado tenha dito que a doação foi da Usiminas e não da SMP&B para fugir da cassação", disse em seu depoimento à CPI do Mensalão na terça-feira, referindo-se a Brant. "Mas o dinheiro era da agência." Paz primeiro tentou reforçar essa versão. "Valério disse, em uma reunião, que deveríamos fazer doações a alguns candidatos de nosso interesse", afirmou, acrescentando que Brant teria recebido "duas ou três" doações. Só mais tarde ele reconheceu que alguns políticos tinham batido à porta da Usiminas antes de receber os cheques da SMP&B, mas não disse quantos. Paz apresentou-se aos parlamentares como um "homem de criação", que zelava pela qualidade das peças publicitárias produzidas pela agência enquanto Valério distribuía dinheiro e fazia amigos no mundo político. "Nunca soube administrar", afirmou Paz, que controla um terço das ações e é o presidente da SMP&B. "É inviável uma só pessoa tomar conta da criação e da contabilidade." Paz sugeriu que acompanhava à distância a aproximação entre Valério e o PT. Assinou os contratos dos empréstimos que o empresário diz ter feito para financiar o PT e seus aliados, assim como os cheques que liberaram o dinheiro. Mas ele disse que não sabia para quem os recursos eram repassados. "Sempre assinei na confiança", afirmou Paz. "Já vinha tudo conferido." Ele negou conhecer o policial civil David Rodrigues Alves, que disse ter entregue a ele parte dos R$ 6,5 milhões que sacou das contas da SMP&B no Banco Rural. Segundo Valério, o dinheiro recolhido pelo policial tinha como destino final uma das empresas do publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.