Título: PF vê fraude em arquivos do Rural enviados à CPI
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2005, Política, p. A6

A CPI dos Correios recebeu ontem provas de que o Banco Rural fraudou informações passadas à comissão. A Polícia Federal encontrou irregularidades em quatro dos seis arquivos enviados pelo Banco Rural à CPI, arquivos que traziam a movimentação bancária - saques e depósitos - das empresas de Marcos Valério. Os peritos constataram que o Banco Rural acrescentou mais 39 mil movimentações. Na opinião do deputado Onix Lorenzoni (PFL-RS), a perícia mostrou que o Banco Rural forjou dados para sustentar as versões de Marcos Valério para os empréstimos que, segundo o empresário, teriam sido a origem do dinheiro distribuído para políticos. Em nota divulgada ontem a noite o banco classificou de "absurda" a acusação. Diz que os arquivos são uma "cópia fiel dos extratos bancários" e que podem ser comprovados por uma perícia nas fitas dos caixas das agências do banco. Nos depoimentos à justiça federal em Belo Horizonte, cinco executivos e um ex-diretor, que respondem a processo penal por gestão fraudulenta e formação de quadrilha, culparam o doleiro Odilon Bacellar Neto, que chegou a ser funcionário da mesa de câmbio do banco, por remessa ilegal de divisas. Os depoimentos tiveram início na segunda-feira. Ontem, apresentou-se o superintende Ronaldo dos Santos Corrêa, último dos executivos do Rural a depor. E também o doleiro acusado pelo MPF de aliciar "laranjas" para o banco mineiro que também está envolvido nas denúncias. Em sua única declaração à imprensa sobre o assunto, o vice-presidente do Rural, José Roberto Salgado, afirmou que os executivos são inocentes e que jamais cometeram irregularidades. Salgado prestou depoimento da terça-feira. A versão do doleiro, no entanto é bem diferente. Em seu depoimento, de acordo com os advogados, Bacellar informou que apenas cumpriu ordens da direção do banco e que não teria como ser o único responsável pela remessa ilegal, sem conhecimento dos executivos. De acordo com o promotor Rodrigo Leite Prado, o MPF tem provas documentais de que o Rural foi responsável pela remessa ilegal de pelo menos US$ 192 milhões entre abril de 1996 e janeiro de 2000. Prado garante que o doleiro Odilon Bacellar era apenas o aliciador. Foram identificados 378 "laranjas", que aparecem como titulares de contas correntes utilizadas no esquema. Quando apresentou a denúncia, em julho, o promotor chegou a dizer que o vice-presidente de operações do Rural é o mentor do esquema de evasão de divisas no país, utilizando contas do tipo CC5. As primeiras denúncias contra o Rural apareceram durante a investigação da CPI do Banestado, apesar de a instituição não ter sido incluída no relatório final. A condenação para crime gestão fraudulenta em instituição financeira varia de 3 a 8 anos de reclusão e multa de até 18 mil salários mínimos. Para formação de quadrilha, a pena prevista é de 1 até 3 anos de prisão. Além de José Roberto Salgado, Ronaldo Bastos Corrêa e Odilon Bacellar, são réus no processo os diretores do Rural Vinicius Saramani, Francisco Pinto Coelho, Cláudio Eustáquio da Silva e o ex-diretor Danton Alencar. O ex-funcionário alega que foi demitido do banco três meses depois do início das remessas ao exterior e argumenta que um dos motivos que levaram à demissão foi o fato de discordar do uso das CC5.(Com agências noticiosas)