Título: Aécio diz que lista foi fraudada
Autor: Thiago Vitale Jayme, Maria Lúcia Delgado e Mauro Z
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2005, Política, p. A8

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, disse que "é uma fraude" montada pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) a lista segundo a qual ele supostamente teria recebido R$ 110 mil do empresário Marcos Valério de Souza para sua campanha a deputado, em 1998. "É a coisa mais covarde que se pode fazer", disse Aécio, pois "ninguém te acusa e você não tem a quem e ao que responder". Segundo o governador mineiro, trata-se de "uma lista apócrifa, que nunca existiu. Isso é um crime". Aécio assegura que nenhum processo em tramitação no Supremo tribunal Federal (STF) tem a suposta lista. Em conversa com o Valor, Aécio afirmou que a lista já havia sido oferecida a jornais de Belo Horizonte, em troca de pagamento, que não teriam se interessado por ela. Para o governador, Pimenta montou uma capa para dar a impressão de que se tratava de cópia de um processo em tramitação no STF. "É uma fraude, é uma montagem. O vice-presidente da CPI do Mensalão virou um fraudador", disse. Para Aécio, seria uma tentativa do PT, acusado de operar um esquema de pagamentos a deputados, em troca de votos, "para radicalizar o processo político, passar para a opinião pública a impressão de que todo mundo é igual e evitar cassações" dos deputados submetidos ao Conselho de Ética da Câmara. O governador disse que há dois grupos distintos, hoje, no governo e no PT. Um, do qual fariam parte os ministros Jaques Wagner (Relações Institucionais), Ciro Gomes (Integração Nacional) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que discute a punição de todos os envolvidos para antecipar o final das CPIs, a fim de o Congresso retomar a normalidade. Outro, "que tenta vitimar a todos. É lamentável que se descambe para esse nível de irresponsabilidade". "Há uma tentativa de desvio da apuração", disse o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), em cuja campanha de reeleição, em 1998, teriam ocorrido pagamentos de Marcos Valério para seu comitê eleitoral. "Tentam confundir a opinião pública, o que só prejudica o real objetivo das CPIs, que é apurar corrupção no governo Lula e compra de deputados". A lista com os nomes de candidatos a deputado federal e estadual por Minas Gerais em 1998 que teriam recebido dinheiro das empresas do empresário Marcos Valério de Souza causou ontem um forte bate-boca entre governo e oposição, durante a primeira reunião conjunta das CPIs mistas dos Correios e do Mensalão. A relação, considerada "apócrifa" e "sem origem" pelos partidos da oposição e "legítima" por aliados do governo, contém uma suposta doação de recursos que teriam sido usados para financiar as campanhas de 84 candidatos no 1º turno das eleições e a outros 24 nomes no 2º turno em 1998. Parte do dinheiro teria sido desviado, segundo o Ministério Público Federal, do patrocínio do governo mineiro ao tradicional evento de motocross "Enduro da Independência" para financiar as campanhas a deputado. Corre no Supremo Tribunal Federal (STF) um processo por conta dessa denúncia do Ministério Público contra o então governador do estado Eduardo Azeredo, hoje senador e presidente nacional do PSDB, e seu então candidato a vice, Clésio Andrade, atual vice-governador de Minas. A lista teria vindo do processo do STF. Na terça-feira, Valério havia repassado à CPI dos Correios uma outra lista com 79 políticos, parentes e assessores que, segundo ele, comprovadamente receberam dinheiro de suas empresas, mas negou-se a revelar outros nomes que não teriam a devida comprovação nem contariam com os respectivos recibos de pagamento. Na lista divulgada ontem, figura como principal nome o atual governador Aécio Neves (PSDB), então candidato a deputado federal. Há também os nomes de dez deputados federais mineiros: Carlos Melles (PFL), Cleuber Carneiro (PTB), Osmânio Pereira (sem partido), Aracely de Paula (PL), Jaime Martins (PL), José Santana (PL), Mario Assad Junior (PL), Custódio Mattos (PSDB), Eduardo Barbosa (PSDB), e Lael Varella (PFL). Constam da lista os ex-deputados federais Carlos Mosconi (PSDB) e Saulo Coelho (PSDB), além da ex-senadora Júnia Marise (PDT). Nenhum dos parlamentares respondeu aos telefonemas do Valor ao longo do dia de ontem. "Essa lista é legítima", disse o deputado Henrique Fontana (PT-RS). Em nota, porém, o PSDB acusou um "conluio montado pelo PT" para "forjar provas e fraudar documentos".