Título: Troca de acusações radicaliza confronto entre Governistas e oposição
Autor: Thiago Vitale Jayme, Maria Lúcia Delgado e Mauro Z
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2005, Política, p. A8

Num momento de crise de identidade das CPIs no Congresso - em que os próprios parlamentares já temem que o foco de investigações se perca e os resultados não sejam efetivos -, o confronto entre governo e oposição atingiu ontem a mais alta temperatura. Vários fatores, somados, agravaram o clima político e devem mudar a postura de parlamentares nas comissões. Os dois principais focos do agravamento da crise foram a insistência do PT em envolver nomes de políticos do PSDB, sobretudo de Aécio Neves, no esquema do empresário Marcos Valério de Souza; e o empréstimo - ou adiantamento, como prefere o PT - que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria feito à legenda no valor de R$ 29,4 mil. Petistas, tucanos e pefelistas trocaram farpas no plenário do Senado ontem sobre os temas. Em reuniões realizadas ontem, PSDB e PFL consideraram desfeito qualquer acordo com os governistas sobre condutas nas CPIs e garantem, agora, que vão insistir nas apurações de suposto esquema de corrupção e tráfico de influência nas estatais - Correios, IRB, Eletronorte, Petrobras - e insistirão na investigação sobre operações suspeitas dos fundos de pensão em três bancos: BMG, Rural e Banco Santos. A tensão política exigirá que as CPIs tomem um rumo claro de investigações. "O Delcídio (Amaral, presidente da CPI Mista dos Correios) terá que deixar de ser o miss simpatia e assumir decisões", disse um parlamentar da oposição. Irritado sobre as especulações de um acordão, o senador Delcídio, líder do PT, reagiu: "Eu não sou pai dos fundos de pensão", disse. Para o petista, a oposição tem o direito de fazer cobranças, mas não há hipótese de as investigações da CPI deixarem de produzir resultados concretos. "Vamos investigar com critérios definidos e bem delineados em relação a vários assuntos, como o funcionamento dos Correios, os contratos feitos, as movimentações de Marcos Valério, as origens e destinos", explicou Delcídio. Os fundos de pensão, segundo ele, serão investigados porque mantiveram relações com os bancos usados no esquema de Valério: "Estão subestimando a decisão da CPI de pedir à CVM e Secretaria de Previdência Complementar dados sobre todas as operações com títulos públicos feitas pelos fundos". O presidente da CPI dos Correios garantiu ainda que está mantida a decisão de enviar ao Conselho de Ética da Câmara os dados, relatórios e indícios que comprometem deputados e justificariam a abertura de processos de cassação. A CPI do Mensalão discorda do procedimento e quer barrar a iniciativa. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), acabou admitindo que, em negociações anteriores, governo e oposição tinham acertado deixar de lado as apurações sobre caixa 2 de campanhas nos Estados. E mandou um recado: se o PT insistir em vincular o PSDB a esquemas de Marcos Valério, sustentando a versão de que tratam-se de casos semelhantes, os tucanos vão exigir a apuração de financiamentos de campanha em todos os Estados. Virgílio citou alguns nomes de petistas, no plenário, que teriam recebido recursos de Valério para as campanhas: "O objetivo deles é atingir o PSDB, impedir que o rival deles na eleição de 2006 fique ainda mais forte". "Eles (o governo) não combinaram conosco. Eles nos pediram para não botar campanha eleitoral no meio da CPI. E agora, levianos, tentam desviar o fato para Minas Gerais", acrescentou Virgílio. As oposições, disse ele, vão começar, a partir de agora, a bater chapa nas CPIs. A estratégia de atuação foi revista. Nomes de peso dos dois partidos passarão a integrar as comissões. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), por exemplo, será titular da CPI dos Bingos. Os líderes do PFL e PSDB passarão a ser suplentes de todas as CPIs. "Estamos dando um freio de arrumação nestas CPIs. Vai haver guerra", previu o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). Em meio às confusões de ontem, os líderes da oposição já avisaram a Delcídio e ao líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), que acabou a temporada de trégua. E que, por enquanto, não há possibilidade de diálogo sobre nenhuma agenda positiva de votações no Congresso. (MLD)