Título: PSDB quer cassar vice da CPI do Mensalão
Autor: Thiago Vitale Jayme, Maria Lúcia Delgado e Mauro Z
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2005, Política, p. A8

Crise Deputado do PT gaúcho divulgou lista sem comprovantes

O vice-presidente da CPI Mista do Mensalão, Paulo Pimenta (PT-RS), teve sua cassação pedida pelo PSDB no Conselho de Ética da Câmara, sob acusação de falta de decoro parlamentar. O petista quis incorporar aos documentos da CPI uma lista que disse ter recebido do publicitário Marcos Valério Souza, com nomes de políticos de diversos partidos de Minas Gerais, principalmente do PSDB, que teriam recebido dinheiro do empresário. A tentativa gerou forte reação dos parlamentares oposicionistas, e obrigou o deputado a admitir que havia mantido um encontro com Marcos Valério, no fim da noite, dentro do carro do publicitário, na garagem do Senado. Parlamentares acusam a lista de ser uma falsificação, e até correligionários de Pimenta o acusam de ter agido de forma desastrada, e de pôr o próprio mandato em risco. O confronto levantado pela ação do vice-presidente da CPI ocupou grande parte da sessão de ontem, destinada a ouvir o sócio de Marcos Valério, Cristiano Paz. Deputados e senadores do PSDB e do PFL decidiram, em reunião, que não participarão de nenhuma sessão da CPI que seja presidida por Pimenta. O PSDB pediu uma reunião administrativa da CPI do Mensalão para hoje, quando pedirá a destituição de Pimenta da Comissão. A lista apresentada por Paulo Pimenta seria uma relação de nomes incluída em uma ação em curso no Supremo Tribunal Federal, ajuizada pelo Ministério Público, com acusação de improbidade administrativa ao senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), por ações quando ele ocupou o governo do Estado. A investigação apura possíveis doações de empresas públicas à SMP&B, de Valério, que atendia o governo. Um orçamento de doações para campanha anexado no fim do processo, incluiria nomes de políticos do PFL, PTB, PSL, PSD, PSN e PSDB. Entre os nomes, afirmou Pimenta, estaria o do atual governador, Aécio Neves e do vice-governador, Clésio Andrade (PFL), ex-sócio de Valério. O governador disse a correligionários que registrou na Justiça Eleitoral doações legais da SMP&B, que não são as da lista apócrifa. Segundo informou ao Valor um assessor do ministro Carlos Ayres Britto, relator do caso de Minas Gerais no STF, os 20 volumes do processo trazem, ao fim, dados da quebra de sigilo bancário de Azeredo, Valério, Clésio Andrade e Cristiano Paz, mas nenhum nome de eventuais recebedores de depósitos ou transferências de recursos do publicitário. Segundo apurou o Valor, Paulo Pimenta, que foi visto encontrando-se com Valério na madrugada, quando teria obtido a lista, teve um encontro com o deputado José Dirceu (PT-SP) ontem, pela manhã, e teria entregue a ele a lista que o deputado apresentou depois à CPI. Pimenta deu a entender no Congresso que a lista obtida por ele, de Valério, seria a mesma atribuída ao STF. A manifestação do deputado ocorreu logo no início da sessão de ontem, ao ser acusado pelo deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) de ter se encontrado clandestinamente com Marcos Valério, após o depoimento do empresário à comissão, na madrugada de ontem. O tucano revelou ter visto Pimenta entrar no carro com Valério e exigiu explicações. Elas vieram, mas o petista entrou em contradições com o que ele mesmo declarou à CPI. Ao responder a Redecker, Pimenta disse, a princípio, ter ido ao encontro de Valério e advogados para receber uma lista com novos nomes de beneficiários do dinheiro do publicitário. Na terça-feira, Valério entregou à CPI uma lista com 70 nomes de pessoas beneficiadas com dinheiro repassado de contas administradas por ele. O empresário afirmou que haveria outros nomes, mas não os revelaria por não ter comprovantes dos pagamentos. "É gravíssimo; como o vice-presidente da CPI vai atrás de um depoente para pegar uma lista apócrifa de madrugada", reagiu a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), iniciando uma revolta contra a revelação de Pimenta na CPI. Pimenta mudou, então, a versão. Ele teria se encontrado com Valério para conferir os nomes de uma lista já encontrada por ele na sala da CPI, e teria pego uma carona com o empresário para ir do Senado a um ponto de taxi. "Me expressei mal", argumentou. Parlamentares da oposição requisitaram as fitas de vídeo da segurança para conferir o encontro na garagem do Senado. Em conversa com o presidente da CPI, senador Amir Lando, o advogado de Valério, Marcelo Leonardo, negou ter entregue qualquer nova relação a Pimenta. "Foi uma montagem, não tem origem", comentou Lando, que decidiu não incluir nenhuma das listas em circulação entre os documentos de trabalho. "Tentaram induzir a CPI e a sociedade a um erro grosseiro", acusou o deputado Redecker. Na representação contra o deputado petista, o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), acusa o deputado de ter metido à comissão e ter mantido contatos inaceitáveis com um depoente à CPI. Até o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante considerou "irresponsabilidade" e "açodamento" a divulgação de uma lista "apócrifa" comprometendo parlamentares. "Peço cuidado rigor e equilíbrio nas investigações", disse Mercadante.