Título: Versões sobre empréstimo a Lula são conflitantes
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2005, Política, p. A8

Versões desencontradas sobre um suposto empréstimo concedido pelo PT ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva podem provocar a quebra do sigilo bancário e fiscal de um amigo próximo do presidente: Paulo Okamotto, presidente do Sebrae. Okamotto revelou ontem que, em nome do presidente mas sem o seu conhecimento, foi responsável por depósito de quase R$ 30 mil na conta do PT, no Banco do Brasil, como pagamento da dívida. A CPI decidiu investigar o suposto empréstimo do PT a Lula depois de ter acesso à movimentação bancária do partido, que abriu mão do sigilo bancário no início das apurações. Dados oficiais do Banco do Brasil mostram que, entre 30 de dezembro de 2003 e 30 de março de 2004, foram feitos quatro depósitos na conta do PT, totalizando R$ 29.436,26, em nome de Luiz Inácio Lula da Silva. Quando foi confrontado pela primeira vez sobre o suposto empréstimo, no dia 22 de julho, o presidente disse, por meio de sua assessoria, que desconhecia o empréstimo do PT e também os pagamentos feitos em seu nome. Esta versão continua sendo sustentada pelo Palácio do Planalto. O ministro de Relações Institucionais, Jacques Wagner, reiterou ontem essa versão. "Tenho a dizer o que ouvi do presidente: o presidente não tomou, não reconhece empréstimo no PT e não pagou empréstimo no PT. O presidente era presidente de honra do PT. Nesse sentido, fez viagens, como da Caravana da Cidadania, e a obrigação do partido é pagar sua despesa", disse Wagner. Segundo o ministro, se o partido decidiu lançar na contabilidade a despesa como empréstimo, Lula não pode ser responsabilizado ou envolvido. "É uma questão de contabilidade do PT. Se o PT lançou errado e depois consertou, a contabilidade tem de explicar. O presidente não vive a vida interna da burocracia nem da tesouraria do PT", acrescentou o ministro. Em nota à imprensa, o secretário-geral do PT, deputado Ricardo Berzoini, e o tesoureiro do partido, deputado José Pimentel, informaram que, em dezembro de 2002, Lula rescindiu seu "contrato de remuneração" com o PT. Da rescisão, diz a nota, surgiu dívida de R$ 29.436,26, "proveniente de viagens ao exterior, pagamento de passagem da senhora Marisa Letícia e adiantamento a funcionário". Segundo a nota, Lula nomeou o tesoureiro de sua campanha, Paulo Okamotto, seu procurador legal para tratar do assunto. Naquela ocasião, Okamotto, de acordo com os dirigentes do PT, não teria reconhecido a dívida. O débito acabou sendo lançado nas contas do PT como um empréstimo a Lula. Em dezembro de 2003, Okamotto, nomeado por Lula para a presidência do Sebrae, teria decidido reconhecer a dívida, realizando o pagamento em quatro parcelas em nome do presidente. A versão que ele sustenta agora é que fez isso com recursos próprios e à revelia de Lula. Em nota à imprensa, o amigo do presidente afirmou ontem que nunca tratou do assunto "para não aborrecer o mais alto mandatário da Nação com questões dessa ordem". O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), fez requerimentos para que a CPI convoque Okamotto para depor e quebre seu sigilo bancário e fiscal, com o objetivo de apurar se o dinheiro dos depósitos saiu de sua conta. A intenção é apurar se os recursos do empréstimo têm origem no valerioduto. (CR, MLD e MZ)