Título: Expansão exige mudança de modelo
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2005, Especial, p. A12

A necessidade de o Brasil voltar a crescer a taxas mais fortes, superiores aos 3,5% esperados para este ano, voltou à pauta de debate dos economistas. "O que devemos fazer para a economia brasileira ganhar ritmo de cruzeiro?", indagou Guido Mantega, presidente do BNDES, que ontem comandou discussão entre economistas de várias escolas e tendências sobre o assunto. Yoshiaki Nakano, Gilberto Tadeu Lima, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, Antônio Côrrea de Lacerda, Antônio Pereira, Carlos Kawall, Demian Fioca, Antônio Barros de Castro e o próprio Mantega foram unânimes em receitar três remédios básicos para o PIB deslanchar: queda do juro, aumento do câmbio e ajuste fiscal que não trave investimento público. Yoshiaki Nakano destacou que a economia hoje não está estagnada, mas o desafio é buscar uma escala maior de crescimento, já que as condições favoráveis a isso estão criadas. Ele recorda que entre os anos 40 e 80 a taxa média de crescimento do PIB era de 7% ao ano. "De repente saímos de nossa trajetória e estamos há 25 anos patinando numa média de 2% ao ano." O diretor da Escola de Economia de São Paulo (EESP), da FGV, destaca que depois da crise dos anos 80, quando o país tinha condições de retomar essa taxa de crescimento, "adotamos o modelo errado". "Em vez de ter projeto nacional, acreditamos na necessidade de recursos externos e a estratégia (errada) foi abrir a conta de capital e agora privilegia-se o financeiro em detrimento do produtivo. Com juro alto, o empresário não investe." A receita de Nakano para voltar a crescer pelo menos 6% ao ano para interromper o desemprego é ter um câmbio muito mais desvalorizado para evitar problemas na balança comercial e baixar os juros. Nesse caso, ele acredita que o déficit nominal zero pode ajudar. Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do IEDI, vai na mesma direção. "Estamos colhendo no curto prazo a estabilidade que vem do saldo comercial. Para ele, é importante combinar a entrada no comércio mundial com um equilíbrio fiscal, mas sem atrapalhar os investimentos. "O ajuste fiscal de curto prazo está sacrificando o longo prazo", avisa. Ele disse que no Brasil está faltando grandes projetos de investimento. "A onda de grandes projetos se esmoreceu por conta do juro alto. Para recuperar o investimento temos de ter juro menor, pois uma política monetária rígida impacta a expectativa dos empresários." Ele acha que o déficit nominal zero pode ajudar, mas tem receio de que se concretize só um lado dessa proposta, o arrocho fiscal. Ele receitou também uma estratégia de aumento do investimento e estímulo a projetos de inovação tecnológica para a indústria. Antônio Lacerda apontou o investimento como a questão crucial para o crescimento sustentado. Ele se confessou contrário a idéia do PIB potencial (que não pode ultrapassar 3,5% ao ano), pois segundo ele, o que motiva o investidor é a expectativa de crescimento econômico. "Definir PIB potencial inibe investimento." Lacerda vê espaço para aperfeiçoar instrumentos de política macroeconômica como câmbio e juro. E também aconselha o governo a olhar para o sistema de metas de inflação num prazo mais longo, de 24 meses. A seu ver, é preciso, para manter a estabilidade sem arrocho monetário, mudar a política de indexação dos preços administrados, o que vai contribuir para a queda do juro. O BNDES pretende prosseguir esse debate com sindicatos, entidades empresariais e também com técnicos do Banco Central. A idéia do banco é, posteriormente, entregar um documento ao presidente da República e ao ministro da Fazenda, para contribuir para aperfeiçoar a política econômica, afirmou o presidente do BNDES.