Título: Para o PT, mensalão não cola
Autor: Pariz, Tiago; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 14/04/2010, Política, p. 3

Petistas avaliam que o tema se esgotou na campanha de 2006, apesar de o presidente Lula admitir que soube do pagamento para a base aliada antes de o escândalo estourar

Os estrategistas da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, minimizaram os efeitos na campanha da confissão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que foi alertado sobre o repasse de dinheiro a partidos aliados antes de o escândalo do mensalão estourar. A avaliação é de que a crise que chacoalhou o partido em 2005 passou pelo crivo do eleitor na reeleição de Lula, em 2006.

Petistas e os envolvidos na campanha da ex-ministra dizem que se a oposição alimentar o tema, poderá ser um tiro no próprio pé. Um recado direto ao também ao Democratas, atingido em cheio no Distrito Federal no caso do pagamento a deputados distritais da base aliada para votar projetos de interesses do GDF. No auge de sua administração, Arruda chegou a ser apontado como um vice natural da chapa encabeçada pelo PSDB na corrida pelo Palácio do Planalto, mas acabou expulso do partido e ficou preso por dois meses por interferir nas investigações da Caixa de Pandora.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, disse que a oposição tenta capitalizar nas respostas dadas por Lula ao Supremo Tribunal Federal no processo sobre o mensalão por estar perdida. ¿Essa estratégia é por falta de projeto e discurso. Como não tem projeto, a oposição tem criado factoides. Eles já usaram isso de maneira exaustiva na campanha de 2006. Como não tem o que propor no lugar do governo que está aí, quer ressuscitar o mensalão¿, afirmou Dutra.

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), discorda que as respostas de Lula ao ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa darão fôlego à oposição, e lembra que a Corte rejeitou incluir o presidente como réu. ¿O Supremo Tribunal Federal o inocentou. Não acredito que isso dê combustível eleitoral para a oposição, não há, em tese, nenhuma novidade ao que o presidente já vinha afirmando desde o escândalo¿, afirmou o petista.

Polêmica O DEM tentou reviver o mensalão no auge da crise no Distrito Federal sob o argumento que diferentemente do PT agiu ao expurgar todos os envolvidos dos seus quadros. Os petistas chegaram a ensaiar um movimento de rebate na Câmara dos Deputados, mas adotou a estratégia do silêncio. Sem alimentar a polêmica, fez água a estratégia dos opositores. Agora, com a confirmação de que Lula soube de Roberto Jefferson do escândalo durante reunião no Palácio do Planalto, como revelado na edição(1) de ontem do Correio, DEM, PPS e PSDB acreditam que as respostas trouxeram nova munição eleitoral.

¿Todas as informações devem ser trabalhadas na eleição para poder se fazer uma avaliação mais correta das alternativas¿, afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), cobrando que a resposta justifica a inclusão de Lula como réu no processo que corre no STF. Para o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), Lula admitiu por confiar, novamente, no perdão do eleitorado. ¿O presidente está confiando no veneno dele, na capacidade de ser anistiado. Mas esse é um fato recente. Esse mensalão do DEM é uma oportunidade de mostrar ao eleitor o comportamento que teve o partido acusado de coisas semelhantes. O eleitor vai comparar¿, afirmou. O presidente do PPS, Roberto Freire, seguiu na mesma linha do colega de oposição. ¿Temos um presidente mentiroso e isso só poderá ser resolvido pela cidadania, no processo eleitoral; os brasileiros é que devem analisar isso¿, disse.

1 - Repasses O Correio mostrou ontem que em respostas encaminhadas às perguntas elaboradas pelo Ministério Público Federal, Lula admitiu pela primeira ter sido avisado por Roberto Jefferson de que o PT estaria fazendo repasses para os aliados. O presidente também reconheceu a possibilidade de ter havido um acordo eleitoral de R$ 10 milhões na campanha de 2002 entre o seu partido e o PL.