Título: Medida divide oposição e base aliada na Câmara
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2005, Brasil, p. A3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, e ao líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, que trabalhem para a derrubada do salário mínimo de R$ 384,29 aprovado pelo Senado na quarta-feira. Os deputados vão tentar reverter a decisão na semana que vem. Para Lula, os parlamentares que votaram a favor do valor de R$ 384,29 não tem mais autoridade política que aqueles que ajudarem a manter os R$ 300 A avaliação do presidente Lula é parecida com a do senador Tasso Jereissati (PSDB/CE). "A votação foi com o fígado", afirmou. Para ele, a divulgação da lista apócrifa de beneficiários do empresário Marcos Valério de Souza, que envolvia políticos mineiros de todos os partidos, ajudou a gerar o confronto. O presidente do Senado, Renan Calheiros, credenciou a derrota à passividade do governo. "A insolvência política do governo começa a atrapalhar a economia", afirmou. Os deputados atuam agora para derrubar a decisão do Senado. O problema esbarra na desarticulação da base aliada, o que pode impor nova derrota ao governo e obrigar o presidente Lula a vetar a medida provisória, o que levaria o mínimo ao valor inicial de R$ 260. Os governistas estudam a possibilidade de derrubar o novo valor e retomar os R$ 300 ou deixar vencer o prazo de vigência da MP modificada no Senado no próximo dia 19. A partir de então, o Congresso aprovaria um projeto de decreto legislativo garantindo a validade dos R$ 300 nestes últimos quatro meses enquanto a MP vigorou. Em seguida, o governo mandaria uma nova MP com valor próximo a R$ 300. O valor não pode ser o mesmo em função da legislação. Esta manobra evitaria a exposição dos governistas. " A Câmara não tem condições políticas para votar um valor menor " , afirmou Luciano Zica (PT-SP), posição partilhada por 21 deputados da esquerda petista. O PFL não aceita voltar atrás. " O aumento do mínimo é uma despesa boa. Não está nos planos do partido qualquer recuo " , afirmou o líder do PFL no Senado, Agripino Maia. A posição do PSDB expressa a divergência entre os dois principais partidos de oposição. " O PSDB na Câmara vai votar contra os R$ 384,29, porque as contas da Previdência não suportam o reajuste " , afirmou o líder do partido, deputado Alberto Goldman (PSDB-SP). O líder do PTB, José Múcio Monteiro, também trabalha para que a bancada derrube o novo valor.