Título: Duda pediu pagamento no exterior, diz Valério
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2005, Política, p. A6

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza negou ter orientado o publicitário Duda Mendonça a abrir a conta no exterior para a qual foi transferida a maioria dos recursos que quitaram as dívidas acumuladas pelo PT na campanha eleitoral de 2002. Valério admitiu que foi avisado das remessas, mas atribuiu a Duda a decisão de enviar o dinheiro para fora do país.

" O senhor Duda Mendonça tem 61 anos de idade e muito mais experiência empresarial do que eu " , disse Valério à CPI do Mensalão. " Não orientei ninguém a fazer isso e não tenho esse poder. " Valério foi à comissão entregar documentos sobre a contabilidade de suas empresas e se ofereceu para prestar novo depoimento.

Valério disse que o responsável pelo envio do dinheiro para o exterior foi o doleiro Jader Kalid Antônio, que apontou como um " consultor financeiro " indicado pela sócia de Duda, Zilmar Fernandes da Silveira, para receber a maior parcela dos R$ 15,5 milhões que Valério repassou a Duda em 2003 por determinação do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.

Entre os documentos que Duda entregou à CPI dos Correios para comprovar depósitos feitos no exterior, há vários comprovantes enviados por fax por uma das agências de Valério, a SMP & B. Segundo Duda, eles provam que as remessas foram feitas sob orientação de Valério, mas o empresário deu outra explicação para os papéis.

Segundo Valério, comprovantes das remessas eram enviados à SMP & B para que ele depois pudesse repassá-los a Zilmar e Delúbio. A história foi considerada sem sentido por vários integrantes da CPI, mas o empresário explicou que pedia os comprovantes para ter documentos capazes de demonstrar que nenhum centavo ficara com ele, eliminando desconfianças que pudessem aparecer depois.

" A única coisa que eu queria era não parecer que peguei o dinheiro do PT e pus no bolso " , afirmou. " Eu tinha que provar para o Delúbio que me livrei do dinheiro. " Lembrando que as primeiras parcelas pagas a Duda foram entregues em dinheiro vivo a Zilmar, acrescentou: " Depois de fazer isso, eu não precisava remeter lá fora para ela " .

O relator da CPI do Mensalão, Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), que recebeu dinheiro de Valério na campanha de 1998, se disse intrigado com o passeio dos recursos encaminhados a Duda. Ele perguntou ao empresário por que foram usados tantos expedientes e intermediários para fazer os repasses, se o dinheiro tinha origem em empréstimos feitos legalmente, como diz Valério.

" Boa pergunta " , Valério respondeu. " O dinheiro era deles e com sinceridade eu não sei por que remeteram para fora. " Quando Abi-Ackel observou que ele poderá ser considerado cúmplice do crime de evasão de divisas por causa de sua participação nas remessas, Valério deu de ombros: " É mais uma que a gente tem que pôr no currículo " .

Valério negou ter entregue ao deputado Paulo Pimenta (PT-RS) a lista apócrifa divulgada pelo parlamentar quarta-feira, com nomes de políticos que teriam recebido ajuda de Valério na campanha de 1998, embora reconheça ter dado uma carona para Pimenta. Pimenta renunciou ontem ao cargo de vice-presidente da CPI e pediu aos colegas desculpas pelo " ato impensado " .