Título: Oposição quer explicações sobre empréstimo a pr
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2005, Política, p. A6

A oposição vai explorar, na CPI dos Correios, as contradições do governo na tentativa de explicar o empréstimo concedido pelo PT ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um pequeno dossiê montado pela assessoria do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) mostra que o depoimento do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, contradiz as explicações dadas pela Casa Civil. Quando foi questionado na CPI sobre o empréstimo de R$ 29.436,26 concedido pelo PT ao presidente, Delúbio confirmou a operação, alegando que é "prática comum no PT conceder empréstimos, sem juros, a dirigentes do partido". "A Casa Civil, ao ser questionada a respeito do empréstimo, informou, primeiramente, se tratar de uma viagem ao exterior, mas que se recusava a informar o destino da viagem. Em um segundo momento, a Casa Civil voltou atrás e decidiu não dar explicações a respeito do empréstimo", diz o dossiê do senador Álvaro Dias. Na prestação de contas eleitoral do PT, relativa ao exercício de 2003 e foi encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), está dito que Lula e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu contraíram dívidas junto ao PT. As dívidas foram quitadas em 2004. No caso de Dirceu, a dívida totalizava R$ 14.322,51 e foi paga em seis prestações, por meio de cheques emitidos pelo ex-ministro. Já a dívida de Lula foi paga entre dezembro de 2003 e março de 2004 por seu procurador legal, Paulo Okamotto, hoje presidente do Sebrae. Ocorre que Lula jamais reconheceu a dívida nem muito menos a sua quitação. Okamotto, que só apareceu como responsável pelo pagamento mais de duas semanas depois da revelação do caso pelo imprensa, disse na quarta-feira que pagou a dívida com recursos próprios, sem o conhecimento do presidente Lula. A CPI e a oposição desconfiam agora que o assunto teria sido tratado, entre o presidente e Okamotto, durante viagem de Lula a Garanhuns (PE), no dia 3 de agosto. O presidente do Sebrae integrou a comitiva de Lula naquela viagem. Outra contradição apurada pela equipe do senador Álvaro Dias: embora a assessoria do presidente sustente que ele desconheça a dívida, os depósitos na conta do PT no Banco do Brasil, feitos para quitar o débito, foram realizados em seu nome Além disso, o presidente não estava em São Paulo nas datas em que foram feitos os depósitos. "Questionado, Okamotto disse não ter recibos nem documentos para provar que foi ele quem fez os depósitos. Disse ainda que pagamentos foram feitos em espécie e que o dinheiro veio de suas contas pessoais em Brasília, após saques não coincidentes com o pagamento das parcelas. Ele não deixou claro quantas vezes sacou dinheiro e de que forma o enviou para São Paulo", menciona o dossiê do senador tucano. Um problema legal levantado pelo deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) pode complicar ainda mais a situação do empréstimo concedido ao presidente Lula pelo PT. A conta onde foram feitos os depósitos é onde o partido movimenta recursos do fundo partidário. A Lei dos Partidos Políticos proíbe que recursos do fundo sejam usados para essa natureza.