Título: Bancada petista exige explicações de ex-dirigentes
Autor: Sergio Leo e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2005, Política, p. A7

A revelação do publicitário Duda Mendonça de que o PT usou até contas no exterior para pagar despesas eleitorais avivou ameaças de pedido de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criou riscos de cassação do registro do partido e aumentou a desorientação entre os petistas. Ontem, houve choro de deputados do PT no plenário da Câmara, insubordinação da esquerda do partido, perplexidade e até manifestações de indignação do líder do partido no Senado, Aloizio Mercadante, que cobrou pessoalmente explicações de Duda Mendonça, e, por telefone, do presidente do partido, Tarso Genro. "Acho oportuno que Lula fale à nação", sugeriu. "É inaceitável que a gente conviva com pessoas por 25 anos num partido político, e não sejam capazes de nos dizer o que está acontecendo", desabafou Mercadante, que, há poucos dias, telefonou a Duda e recebeu a garantia do publicitário de que ele não havia recebido dinheiro do empresário mineiro Marcos Valério de Souza. Mercadante, dizendo-se "perplexo", exigiu explicações públicas dos integrantes do partido envolvidos nas irregularidades denunciadas nas CPIs do Congresso, entre eles o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. "É inaceitável o que está acontecendo; os dirigentes têm de responder ao partido pelo que fizeram, todos, sem exceção." Ao sair da CPI, o senador chegou a responder com "não sei" a quem lhe perguntava se as revelações poderiam levar ao impeachment do presidente. "Vamos aguardar a apuração de todos os fatos antes de qualquer providência." Os parlamentares da esquerda do partido, 21 deputados e quatro senadores, insatisfeitos, fizeram uma manifestação no plenário da Câmara, para divulgar uma nota em que exigem a convocação do Diretório Nacional para este fim de semana, e o afastamento, da bancada federal do PT e das instâncias partidárias, dos deputados denunciados com provas documentais comprometedoras. Querem afastar também deputados integrantes das CPIs envolvidos nas denúncias e também os flagrados em falso testemunho (como foi o caso do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha e, mais recentemente, do deputado Paulo Pimenta, que mentiu em relação a um encontro com Valério após o depoimento do publicitário à CPI). "Não é possível que gente como Dirceu continue no diretório nacional como se nada tivesse acontecido", disse o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), que, como outros parlamentares, chegou a chorar durante a manifestação no plenário. "É um golpe na alma da gente", comentou. Os deputados da esquerda entregaram os cargos de vice-liderança que detém nas comissões da Câmara, comunicaram que passarão a agir, em bloco, de forma independente da direção partidária. Sinal de divergências na esquerda, porém, foi a iniciativa do senador Eduardo Suplicy, que, apesar de ter participado da redação da nota, à noite pediu para não assiná-la, argumentando que há partes do texto que se referem a "questões exclusivas da Câmara". De manhã, os parlamentares da esquerda atenderam a um pedido de encontro com Tarso Genro, que, segundo relataram, reconheceu não haver ninguém no PT com autoridade para criticar a decisão dos parlamentares, de anunciar independência da direção partidária. "Foi uma boa reunião, ele reconheceu que a crise é profunda, não está na posição autista de alguns integrantes da direção", comentou o deputado Ivan Valente (PT-SP). "Falamos com Tarso antes dessa bomba do Duda (Mendonça); precisamos saber de onde veio esse dinheiro", reagia o deputado Chico Alencar (PT-RJ). Os petistas concordam que a revelação de Duda é um forte golpe para o partido, e que certamente motivará o pedido de cassação de registro. Mas ninguém acredita que possa haver a cassação, devido ao tamanho e penetração do partido no país. "A decisão será política", arrisca o deputado Maurício Rands (PT-PE). Pouco depois da manifestação de Mercadante cobrando explicações de Duda Mendonça, que falava á CPI dos Correios, a senadora Ideli Salvatti (SC) chegou a dizer que estava passando mal de saúde, e também desabafou: "É muito difícil para nós que construímos esse partido e colocamos o presidente Lula no poder trabalhar nessa investigação." (Colaboraram Cristiano Romero e Jaqueline Paiva)