Título: Ligações de Buratti podem levar à convocação de Palocci
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2005, Política, p. A14

Dados obtidos com a quebra de sigilo telefônico do advogado Rogério Tadeu Buratti indicam que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, esteve entre os principais destinatários das suas ligações. O surgimento dessa informação intrigou os parlamentares da CPI dos Bingos, que já admitem convocar o ministro para depor. A CPI não recebeu informações sobre o período e a quantidade exata das ligações feitas por Buratti. O número da casa onde mora Palocci, no Lago Sul, em Brasília, aparece em relatório preparado pelo Ministério Público de São Paulo em 29 de abril de 2004 e consta de inquérito da Polícia Federal que investiga em quais condições foi renovado o contrato da GTech do Brasil com a Caixa Econômica Federal, para operação de loterias. O relatório analisou ligações feitas por Buratti a partir de cinco linhas de telefone fixo e cinco celulares. Além do ministro, as pessoas que receberam "a maioria dos contatos", depois de "feitas as análises e confrontos nas bilhetagens", foram as seguintes: Jeany Mary Corner (agenciadora de garotas de programa em Brasília), Marcelo Franzine (ex-diretor do Grupo Leão Leão), Juscelino Dourado (chefe de gabinete de Palocci e afilhado de casamento do advogado) e Ralf Barquet Santos (ex-consultor da Caixa, que morreu no ano passado). Buratti é acusado por ex-executivos da GTech de ter cobrado propina de R$ 6 milhões, às vésperas da renovação do contrato, para facilitar o negócio e melhorar as suas condições. Na terça-feira, ao depor na CPI dos Bingos, o advogado disse que foi o ex-diretor de marketing da empresa, Marcelo Rovai, quem o procurou. De acordo com a versão de Buratti, Rovai queria a sua intermediação por causa da relação do advogado com altos funcionários do governo, incluindo o ministro da Fazenda, ao qual a Caixa está subordinada. "Eu não tenho nenhuma intimidade recente com o ministro Palocci que me permitisse tratar disso", teria dito Buratti, segundo o relato que ele mesmo fez à CPI. O advogado acrescentou que só mantém "encontros ocasionais" com Palocci desde que deixou a secretaria de Governo da Prefeitura de Ribeirão Preto, em 1994, quando ela era comandada pelo atual ministro. "Estou longe de ser amigo do ministro Palocci. Infelizmente, porque ter a amizade dele é uma honra que enriquece o currículo de qualquer um", afirmou no depoimento de terça. Para os senadores que integram a CPI, o sigilo telefônico desmente Buratti. "Isso prova mais uma mentira daqueles que vieram depor", reagiu o presidente da comissão, Efraim Morais (PFL-PB). De acordo com o senador, o primeiro passo é ouvir novamente o advogado, mas admitiu a possibilidade de convocar também Palocci para prestar esclarecimentos. "Se comprovada uma série de contatos, não tenho nenhuma dúvida de que podemos convocá-lo", completou Efraim. Os contatos com Palocci foram considerados mais comprometedores que os demais. Juscelino Dourado é um dos amigos mais próximos de Buratti, assim como Ralf Barquet. No dia da renovação do contrato com a GTech, em 8 de abril de 2003, Buratti e Barquet teriam trocado dez ligações, segundo informações que a CPI obteve nesta semana. (DR)