Título: Waldomiro diz ter sido vítima de extorsão
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2005, Política, p. A14

Crise CPI dos Bingos aprova convocações de José Dirceu, Garotinho, Rosinha, Benedita e Geraldo Magela

O ex-subchefe da Casa Civil Waldomiro Diniz afirmou ontem, em depoimento à CPI dos Bingos, que não recebeu "nenhum centavo" do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Protegido por um "habeas corpus" preventivo, Waldomiro alegou inocência e disse ter sido vítima de extorsão por parte de Cachoeira. Diante das versões diferentes apresentadas pelos dois, a CPI decidiu fazer uma acareação nas próximas semanas. A comissão também aprovou requerimentos convocando o ex-ministro José Dirceu, a quem Waldomiro era subordinado, e mais quatro políticos: os ex-governadores do Rio de Janeiro Anthony Garotinho e Benedita da Silva, a atual governadora Rosinha Matheus e o candidato derrotado ao governo do Distrito Federal nas eleições de 2002, Geraldo Magela. As datas dos depoimentos deverão ser marcadas na terça-feira. Waldomiro reconheceu a veracidade da gravação feita por Cachoeira em que ele aparece pedindo propina de 1% sobre o valor de um contrato entre o empresário e a Loteria Estadual do Rio de Janeiro (Loterj), então presidida pelo ex-assessor da Casa Civil. Mas afirmou que se trata de um "pequeno trecho de um longo diálogo", com "roteiro pré-estabelecido" por Cachoeira. "O meu delator mente, mente e mente de novo quando diz que eu o achaquei. Foi ele quem me achacou", disse Waldomiro. Segundo o ex-assessor de Dirceu, o interesse do empresário era instalar máquinas de vídeo-loteria nas casas lotéricas do Rio, o que o contrato dele com a Loterj não permitia. "Isso eu não pude deixar. A partir do dia em que eu disse a ele que ele tinha de cumprir o contrato, nunca mais tive paz." O objetivo da cobrança de 1% sobre o valor do contrato era "ajudar" o ex-consultor da Loterj Armando Dile, que havia sido contratado por Cachoeira, mas teve seus salários atrasados, segundo Waldomiro. A CPI recebeu novos dados, porém, que comprometem ainda mais o ex-subchefe da Casa Civil. Poucas semanas antes da conversa em que ocorre o acerto da propina, um outro vídeo foi gravado no aeroporto de Brasília mostrando uma conversa entre Waldomiro e Cachoeira. O diálogo foi filmado, mas o áudio não foi captado. A comissão teve acesso a um laudo da Polícia Federal que degravou essa conversa a partir da análise pericial feita por especialistas em leitura labial. No vídeo, Cachoeira aparece quase o tempo todo de costas para as câmeras, o que impediu os especialistas de descrever o diálogo. Embora desconexas, as frases pronunciadas por Waldomiro, segundo a perícia, são comprometedoras. "Vai rolar muito dinheiro, muito dinheiro. Eu me responsabilizo, não se preocupe", afirma em um momento, sempre de acordo com a leitura labial. "Nós temos duas opções: ou nós pegamos e acabamos com ele ou tentamos negociar, mas no fim eu vou sair ganhando", diz Waldomiro, pouco depois. Ainda nessa gravação, Waldomiro completa: "Dinheiro não se esconde, precisamos disfarçar. Isso a gente precisa lavar". Pouco depois, parece reagir desconfiado. "Polícia Federal? Pelo amor de Deus...", diz. Contrariando determinação dos seus advogados, conforme disse no depoimento, Waldomiro disse que repassou ao tesoureiro do então candidato ao governo do Distrito Federal, Geraldo Magela a quantia de R$ 100 mil, doados por Carlinhos Cachoeira. "A conversa foi a seguinte: ele me indagou se Geraldo Magela teria condições de ganhar as eleições no Distrito Federal. Respondi que sim e, imediatamente, ele disse que queria contribuir. Aí me entregou o dinheiro, o qual repassei imediatamente ao tesoureiro da campanha de Magela", informou Waldomiro, afirmando que essa foi a única vez que recebeu dinheiro de Cachoeira para campanhas políticas. Magela nega ter recebido o dinheiro e diz que está processando Waldomiro por calúnia e difamação.