Título: Siderurgia perde fôlego e margem
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2005, Empresas &, p. B1

Aço Vendas no terceiro trimestre devem cair e mercado retoma recuperação só no fim do ano

O desempenho das siderúrgicas no segundo trimestre já demonstra uma leve desaceleração em comparação aos primeiros três meses do ano e a tendência é de resultados financeiros ainda mais tímidos para o terceiro trimestre, de acordo com especialistas ouvidos pelo Valor. A recuperação de margens e de preços só deverá chegar no fim do ano. Em comparação ao ano passado, as receitas do segundo trimestre foram bem superiores. Entretanto, a margem líquida das usinas praticamente ficou empatada com a de 2004 e caíram drasticamente em relação ao primeiro trimestre. No período, as usinas foram impactadas pelo aumento de custos das matérias-primas e pela queda de preço no mercado internacional. A depreciação do dólar e o consumo interno em desaceleração também foram determinantes para os resultados mais fracos no período. Segundo Pedro Galdi, analista do ABN Amro Corretora, as usinas preferiram comercializar volumes menores a perder margens maiores no segundo trimestre. "O cenário não chega a ser desesperador". A mesma estratégia deverá ser adotada no terceiro trimestre, por conta dos altos estoques em toda a cadeia. Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Gerdau revisaram para baixo suas expectativas de vendas para este ano. Recentemente, a Acesita anunciou corte de 30 mil toneladas para adequar seus estoques à realidade do mercado. No mercado "spot" (importante balizador para os negócios de longo prazo) o preço da placa para o terceiro trimestre já é negociado entre US$ 350 e US$ 360 por tonelada. No início do ano, a cotação era de US$ 550. Marcelo Aguiar, analista do Merril Lynch, diz que os estoques elevados deverão jogar os níveis de vendas para o "fundo do poço" já no mês de agosto no mercado interno. A situação é mais grave no segmento de planos, em que os estoques são estimados atualmente em 82 dias, enquanto o normal é um volume suficiente para 57. No caso dos longos (cujos principais produtores são Gerdau e Belgo Mineira) os estoques são estimados em 30 dias, o que é considerado saudável. Dessa forma, o analista acredita em impactos menos significativos para os produtores de longos no terceiro trimestre, que serão beneficiados pela queda de preço de suas principais matérias-primas, a sucata e o ferro-gusa. Pode ainda haver uma recuperação do consumo, ligado à retomada da construção civil. Nos planos, ao contrário, haverá entre julho e setembro o reflexo do reajuste do carvão, em 120% neste ano. Aguiar ainda lembra o alto prêmio pago pelo mercado interno (de 40%) em comparação aos preços externos. O preço médio da tonelada de longos, a US$ 500 no mercado internacional, enquanto a tonelada foi negociada no segundo trimestre a US$ 740. Para o quarto trimestre, os estoques internacionais deverão estar regularizados, o que deverá elevar a cotação do produto em cerca de 5%. Luiz Martinez, diretor de vendas da CSN, afirmou que as vendas para setembro já mostram preços entre 5% e 10% maiores para os laminados a quente. Os preços das bobinas a quente devem se manter estáveis, segundo o executivo, sendo cotadas entre US$ 630 a US$ 690 por tonelada. A siderúrgica americana Nucor também anunciou reajustes da ordem de 15%. Galdi, do ABN só acredita em reajustes mais fortes caso a China e os Estados Unidos voltem a comprar aço com voracidade.