Título: Chimarrão muda para atrair consumidor jovem
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2005, Empresas &, p. B4

Bebidas Erva mate fica mais verde e menos amarga e a cuia é de plástico

Depois de amargar baixas taxas de crescimento de mercado durante pelo menos seis a sete anos, as indústrias de erva-mate do Rio Grande do Sul decidiram partir em busca do público jovem e urbano para alavancar as vendas de chimarrão. As empresas começam a se organizar para lançar uma campanha institucional de divulgação do produto, sem se limitar à figura do gaúcho do pampa como consumidor típico, e já apresentam novidades como erva embalada a vácuo e cuias de polietileno, algo que há não muito tempo seria considerado uma heresia para os mais conservadores. As indústrias também estão adaptando o chimarrão ao gosto dos novos consumidores, explica o presidente da ervateira Barão de Cotegipe, uma das maiores do Estado, Sérgio Picolo. A erva chega ao mercado com coloração mais verde - perdendo um pouco do marrom esverdeado -, graças à introdução de novos sistemas de secagem em esteiras no lugar das antigas estufas. O sabor está menos amargo, fruto da mistura de matéria-prima nativa, que é mais suave e na maior parte dos casos trazida do Paraná, com material colhido em áreas replantadas do Rio Grande do Sul. No ano passado a Barão de Cotegipe também lançou o chimarrão embalado a vácuo, que permanece com as características inalteradas por 18 meses - prazo bem superior aos 30 dias garantidos nas embalagens comuns de papel. Segundo o engenheiro agrônomo da Emater-RS, Ilvandro de Mello, nos últimos sete anos o consumo de erva-mate no Estado passou de 100 mil para 110 mil toneladas anuais - um ritmo de crescimento considerado baixo pelos empresários do setor. No mesmo período, a produção gaúcha subiu de 50 mil para, no máximo, 70 mil toneladas por ano. Uma pequena parte ainda é exportada para países como Uruguai e Chile e o volume que falta para abastecer o consumidor do Rio Grande do Sul vem de Santa Catarina e do Paraná, que juntos registram uma demanda equivalente à metade da gaúcha. Os consumidores mais freqüentes de chimarrão ainda são a população mais idosa, o agricultor e o "peão de estância" na fronteira, observa Picolo, mas também vem aumentando o número de jovens e famílias que adotaram o hábito nas cidades maiores, especialmente nos passeios de fim de semana.

Nos últimos sete anos o consumo gaúcho de erva-mate passou de 100 mil para apenas 110 mil toneladas anuais

Em Porto Alegre, por exemplo, centenas de pessoas costumam circular aos domingos pelo "brique" - tradicional feira de artesanato e antiguidades - do Parque da Redenção , munidos de suas cuias e garrafas térmicas. "O futuro é apostar nos jovens", afirma o presidente da Barão de Cotegipe. A publicitária e especialista em marketing Cristiana Ferronatto, de 31 anos, é um retrato do consumidor que as ervateiras estão tentando conquistar. Ela começou a beber chimarrão aos 15 anos, por influência da família e de amigos e hoje tem o hábito de tomar o mate com os colegas de trabalho, na Incentive House, do grupo Accor, e nos fins de semana. "Cria um ambiente de descontração", afirma Cristiana. O chimarrão também aproxima as pessoas porque, normalmente, é compartilhado, e funciona como um bom substituto para o café, acrescenta a publicitária. Cristiana compra apenas as marcas mais conhecidas ou por indicação de amigos e parentes. Para ela, a promoção do chimarrão é insuficiente, opinião que é acompanhada por Picolo, da Barão, e também por outros empresários como Alfeu Strapasson, da ervateira Rei Verde, e Lúcio Flávio Metzdorf, da Madrugada. "Falta um pouco de divulgação", reconhece Picolo. Agora, organizadas em torno do Sindimate, o sindicato do setor no Estado, as indústrias pretendem retomar um antigo projeto de promover a imagem da erva-mate entre o público jovem. Algumas empresas já realizam as chamadas "mateadas", ou degustações, em universidades, mas uma campanha mais estruturada sempre esbarrou nos custos, já que a maior parte das 200 ervateiras que operam no Rio Grande do Sul são de pequeno porte, explica Metzdorf.

A cuia de polietileno de alto impacto, mais fácil de limpar do que o tradicional porongo seco, sinaliza mudanças

Mesmo sendo uma das maiores, a Barão, por exemplo, fatura de R$ 8 milhões a R$ 10 milhões por ano, com vendas mensais de 500 toneladas, sendo 30% no mercado externo, para o Uruguai e o Chile. Um dos motes da campanha de divulgação será o fato de que o chimarrão é uma bebida saudável, explica Picolo. Segundo Mello, da Emater, a erva-mate contém sais minerais, vitaminas A e B, cafeína e outros componentes benéficos. "Há 500 anos os índios já a usavam para restabelecer o ânimo e o vigor e para melhorar o funcionamento do aparelho digestivo", relata o agrônomo. A preocupação com a imagem do chimarrão também levou o setor a desenvolver, em conjunto com a Emater, um sistema de certificação que fiscaliza itens como isenção de produtos químicos na lavoura e higiene na colheita, transporte, industrialização, embalagem e armazenamento, explica Mello. O sistema existe há um ano e as algumas marcas já começaram a receber o selo de qualidade, entre elas a própria Barão e a Chimango, diz Picolo, que até o início do ano foi presidente do Sindimate. Na linha de acessórios, a novidade mais inusitada é a cuia de polietileno de alto impacto, mais fácil de limpar do que o tradicional porongo seco (fruto do porongueiro). O produto de plástico começou a ser fabricado pela Plaxmetal, uma indústria de componentes para móveis de escritório de Erechim (RS), por encomenda de ervateiras e empresas de outros setores que o distribuem como brinde aos clientes. "Até uma funerária encomendou um lote neste mês", revela Ezídio Zorzi, sócio da empresa, que calcula em mais de 10 mil unidades o volume já produzido em cinco anos.