Título: Sem transmissão ao vivo, comissão é mais ágil
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2005, Política, p. A6

Ainda longe dos holofotes e tratada como figurante das investigações do "mensalão", a CPI dos Bingos tem sido marcada até agora por uma rotina bem diferente das suas vizinhas mais badaladas, as comissões dos Correios e da Compra de Votos (Mensalão). Como boa parte dos sigilos quebrados pela CPI não foi inteiramente remetida pelos bancos, a análise mais minuciosa dos dados ainda não começou e é raro ver parlamentares debruçando-se sobre informações confidenciais na sala dos documentos. Formada apenas por senadores e sem depoimentos transmitidos ao vivo pela televisão, a comissão tem feito sessões bem mais rápidas do que aquelas da CPI dos Correios. Um dos depoimentos da semana passada chegou a ter apenas seis inscritos para fazer perguntas. Até mesmo a oitiva do ex-subchefe da Casa Civil Waldomiro Diniz, aguardada com ansiedade pelos parlamentares, surpreendeu pela rapidez: acabou em cerca de cinco horas. Diferentemente do clima de tensão observado nas CPIs dos Correios e do Mensalão, nas quais senadores e deputados disputam a chance de falar diante das câmeras, a CPI dos Bingos é dominada por um ambiente mais leve e descontraído. Em boa parte, por causa da calma e do impagável humor do relator, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Na semana passada, o senador potiguar não perdeu a piada. No depoimento de Waldomiro, resolveu questionar sobre o relacionamento dele com outro ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil, o ex-dirigente petista Marcelo Sereno. Quis saber se Waldomiro sentia ciúmes de Sereno, homem do PT que fazia parte das indicações do partido para as estatais. Diante da surpresa de Waldomiro com a pergunta, Garibaldi justificou: "É importante. O senhor sabe que ciúme de homem é pior que ciúme de mulher!" A mesma descontração foi usada para encerrar uma acalorada discussão na quarta-feira passada, que quase acabou com a prisão do advogado Walter dos Santos Neto, dono da consultoria jurídica MM, que depunha sem "habeas corpus" e foi pego mentindo à CPI ao omitir a posse de um apartamento. Indignado, o senador Magno Malta (PL-ES) - que reclamava da coincidência de ter as mesmas iniciais da empresa, MM, suspeita de lavar dinheiro - queria prendê-lo de qualquer jeito. A ponderação do delegado aposentado Romeu Tuma (PFL-SP) conseguiu acalmar Magno Malta. Tuma propôs uma solução salomônica: dar mais algum tempo para que o dono da MM reunisse outros documentos e pudesse ajudar a comissão. Se não fizesse isso nas próximas semanas, aí sim seria preso. O impasse só acabou de vez com a tirada de Garibaldi. "Chega de discussão", afirmou o relator. "Se for para começar a prender nas CPIs, teríamos que aumentar agora mesmo as cadeias do país!" A freqüente descontração da CPI dos Bingos não impede, no entanto, a adoção de posturas rígidas, principalmente por parte do presidente Efraim Morais (PFL-PB). O senador pefelista corta subitamente as respostas dos depoentes sempre que eles começam a fugir dos questionamentos e às vezes tem que controlar a fúria do senador Leonel Pavan (PSDB-SC), o mais irritado e sempre alguns decibéis acima dos seus colegas parlamentares. (DR)