Título: Buratti deve ser indiciado em inquérito pol
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2005, Política, p. A6

Crise Convocação de Palocci divide até a oposição na CPi dos Bingos

O advogado Rogério Tadeu Buratti deverá ser indiciado amanhã, por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, no inquérito policial que investiga irregularidades em licitações para a contratação de serviços de coleta de lixo e de limpeza pública. O indiciamento provavelmente ocorrerá durante o depoimento que ele prestará na tarde desta terça-feira na delegacia seccional de Ribeirão Preto (SP). Em até duas semanas, o Ministério Público do Estado de São Paulo pretende oferecer denúncia à Justiça pela prática desses dois crimes. Além de Buratti, deverá ser indiciado Marcelo Franzine, outro ex-diretor do Grupo Leão Leão, de Ribeirão. O presidente da empresa, Luiz Cláudio Leão, obteve uma liminar em pedido de "habeas corpus" para evitar o indiciamento no inquéito. O Ministério Público tenta derrubar nesta semana a liminar, concedida pela 3ª Vara Criminal da cidade. As investigações que sugerem a formação de quadrilha na chamada "máfia do lixo" são as mais adiantadas até agora, mas vão mais além. A força-tarefa criada para trabalhar no caso decidiu desdobrar as apurações, o que poderá levar ao indiciamento de Buratti por falsidade ideológica em um inquérito instaurado em Jardinópolis (SP). No município, ele teria registrado uma de suas empresas - a BBS - na residência de uma copeira que trabalhava na Leão Leão, onde o advogado passou por vários cargos e chegou à vice-presidência. A Polícia Civil e o Ministério Público suspeitam que um grupo de ex-diretores da Leão Leão liderou um esquema de "oferecimento de favores" para vencer licitações em pelo menos 15 prefeituras de três Estados - São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. Buratti está sendo investigado também pela CPI dos Bingos, que já tem em mãos seus sigilos fiscal e bancário. Ele foi secretário de Antonio Palocci, até 1994, na primeira gestão do atual ministro da Fazenda como prefeito de Ribeirão Preto. Na semana passada, informações levantadas pela CPI junto ao Ministério Público mostraram que o ministro recebeu ligações do ex-assessor até 2004. Parlamentares demonstraram preocupação com essas informações porque Buratti é acusado por dois ex-executivos da GTech do Brasil de tentar cobrar propina de R$ 6 milhões para favorecer a multinacional americana na renovação de um contrato para operar loterias da Caixa Econômica Federal, estatal subordinada ao Ministério da Fazenda. O advogado nega as acusações e diz que foi a GTech quem ofereceu a ele até R$ 16 milhões para interferir no processo junto a altos funcionários do governo. Em depoimento na terça-feira passada, Buratti disse à CPI que não tinha "nenhuma intimidade recente" com Palocci e há vários anos o encontra apenas em eventos "ocasionais". Para os senadores da comissão, as ligações ao ministro desmontam o depoimento prestado pelo advogado. A convocação de Palocci à CPI dos Bingos já é admitida pelo presidente da comissão, Efraim Morais (PFL-PB), mas divide até mesmo a oposição. O senador Geraldo Mesquita (PSOL-AC), integrante da CPI, disse ao Valor que apresentará amanhã, em reunião administrativa da comissão, um requerimento propondo a convocação do ministro para prestar esclarecimentos. O relator Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) tem adotado uma postura cautelosa em relação a Palocci e mantém silêncio sobre o assunto. Outro membro da CPI, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), acredita que a ida do ministro ao Senado pode trazer mais instabilidade à economia neste momento do que benefícios às investigações. "Eu ainda não convocaria. Essas ligações não foram para dar bom-dia e boa-noite, mas ainda é pouco diante das responsabilidades que ele tem para colocá-lo no banco dos reús", argumenta Dias. Na sexta-feira, Palocci divulgou uma nota em que reitera que seus contatos com Buratti "foram, nos últimos anos, sociais e esporádicos". Segundo o ministro, "eventuais telefonemas foram provavelmente tentativas de contato que não prosperaram". Ele disse ainda que acompanha as investigações sobre trocas de ligações entre Buratti e seus atuais assessores na Fazenda. A agenda da CPI dos Bingos nesta semana inclui o depoimento de ex-executivos da Caixa Econômica Federal: o ex-presidente Valderi Albuquerque e o ex-vice-presidente de logística Mauro Haag, na quarta-feira; na quinta, o também ex-vice de logística Paulo Bretas e o ex-superintendente de projetos Carlos Cartell.