Título: Reduto eleitoral vê heroísmo em Jefferson
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2005, Política, p. A6

Embora o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) tenha confessado que recebeu ilegalmente R$ 4 milhões do PT, confissão que pode lhe custar o mandato e os direitos políticos, o pivô dos escândalos dos Correios e do mensalão pode sair ganhando no seu mais fiel reduto eleitoral. Nos sete municípios da região serrana do Rio que se constituem no seu mais tradicional reduto eleitoral (Petrópolis, Três Rios, Paraíba do Sul, Areal, São José do Vale do Rio Preto, Sapucaia e Comendador Levy Gasparian) muitos o consideram inocente e até adversários políticos consideram que ele hoje é visto na região como herói e candidato a uma votação histórica caso se mantenha elegível em 2006. Curiosamente, as denúncias do mensalão recolocaram Jefferson em evidência numa região na qual ele perdeu muito espaço nas duas últimas eleições (2002 e 2004). Caiu de 19.374 votos na eleição de 1998 para 14.084 na de 2002. No ano passado, só elegeu, em coligações, dois prefeitos, um deles (Antonio Suzano, de Comendador Levy Gasparian, terra da atual mulher de Jefferson, Ana Lucia Novaes), já cassado sob suspeita de compra e votos. Suspeito de envolvimento com corrupção e nos Correios e em outras estatais, o deputado contra-atacou afirmando que o PT pagava R$ 30 mil mensais a parlamentares de outros partidos para garantir apoio político, dando origem ao escândalo do mensalão. Reforçando uma lógica que se baseia na coragem acima de tudo, amigos e correligionários do deputado começam a colocar nos seus carros e a distribuir adesivos com os dizeres: "Eu acredito em Roberto Jefferson". Mesmo políticos que se elegeram por coligações rivais ainda defendem seu mandato e o consideram importante para o direcionamento de verbas federais (emendas orçamentárias) para a região. "Ele está saindo como herói. Houve uma comoção porque ele falou muitas coisas que estão se mostrando realidade", afirma o prefeito de Três Rios, Celso Jacob (PMDB), declaradamente adversário de Jefferson. A avaliação positiva de Jacob não implica em absolvição de Jefferson pelo adversário, para quem o fato dele ter feito as denúncias não o isenta de culpa. "Ele cometeu os erros dele e só porque apontou erros de outros fez uma cortina de fumaça", ressaltou. Três Rios, onde o Paraíba do Sul recebe dois dos seus mais importantes tributários - os rios Paraibuna e o Piabanha -, foi um dos sete municípios onde Jefferson mais perdeu votos de 1998 para 2002, passando de 1.499 para apenas 299. "Minha chegada fechou seus espaços", afirma Jacob, prefeito em segundo mandato. Na Câmara de Vereadores de Três Rios, a bancada do PTB (dois vereadores) faz o contraponto. Rubens César Mizael, o Tuca, presidente da Casa, mesmo se confessando pouco chegado a Jefferson diz que "ele foi um mal necessário" pelas denúncias feitas e acha que o deputado se reelege facilmente se não for cassado. Outro petebista, o vereador Marco Torno (ex-PFL), considera Jefferson "muito importante para a região", diz que ele ajudou a reurbanizar o centro de Três Rios e duvida os outros partidos no Congresso Nacional tenham autoridade moral para cassá-lo. Em Petrópolis, cidade natal de Jefferson, sua votação baixou de 8.348 votos para 7.770 de 1998 para 2002, mas seu partido está representado na coligação que reelegeu o prefeito Rubens Bomtempo (PSB) e tem controla uma secretaria e o órgão municipal de trânsito. O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, Eduardo Ascoli, que não é do partido de Jefferson, diz que a situação vivida pelo deputado "é ruim (para o município) porque antes ele era um aliado do governo federal com reais possibilidades de encaminhar e defender propostas em benefício da cidade". No Orçamento de 2004, Jefferson e o PTB conseguiram R$ 1,07 milhão do total de R$ 1,8 milhão obtidos por Petrópolis via emendas orçamentárias, o que representa 60% do reforço no caixa. Mas para o Orçamento deste ano o município é candidato a R$ 2,6 milhões em emendas, nenhuma de Jefferson e seu partido. Isso leva Ascoli a concluir que, apesar da importância de Jefferson, Petrópolis tem outras relações parlamentares que lhe permite suprir uma eventual saída do petebista de cena. O benefício eleitoral trazido pelas denúncias é menos realçado em Paraíba do Sul, cidade onde já foi proprietário de uma fazenda, e onde Jefferson sofreu a perda eleitoral mais contundente, passando de 3.629 votos em 1998 para 659 em 2002. O ex-prefeito Rogério Onofre (1997-2004), ex-aliado de Jefferson e hoje integrante do grupo do ex-governador Anthony Garotinho, sendo presidente do Departamento de Transporte Rodoviário do Estado do Rio de Janeiro (Detro) se considera o artífice dessa derrocada. "Minha missão em Paraíba do Sul foi cumprida. Expulsei esse cara de lá", afirmou. Na eleição municipal de 2004, Onofre elegeu seu sucessor (João Vicente), derrotando a candidata apoiada por Jefferson (Mariângela Santos). Nas comemorações, foi cortada aos pedaços a cauda de um gato de pelúcia que simbolizava o deputado O vereador José Glicério Bernardes, o Canela (PTB) afirma que Onofre foi "carregado nas costas" por Jefferson e que o ex-prefeito tem o hábito de trair seus aliados. Onofre e Jacob acusam Jefferson de "aparelhar" as prefeituras aliadas, impondo contratações, como a do seu irmão Ronaldo Francisco, que foi procurador de Paraíba do Sul e de Três Rios e seria o pivô da briga do deputado com Onofre. Nos quatro municípios de menor porte da região (São José do Vale do Rio Preto, Sapucaia, Areal e Levy Gasparian) a influência de Jefferson, mesmo sem ter aliados nas prefeituras, é incontestável. Em São José, é considerado "pai" das telecomunicações e da expansão do hospital. O prefeito Manoel Martins Esteves (PMDB), adversário partidário, diz que Jefferson ajudou a cidade a "dar um salto". No distrito de Anta, em Sapucaia, onde nasceu o pai de Jefferson, Roberto Francisco, é fácil encontrar parentes do deputado nas ruas. "Aqui tem 50 a 60 pessoas da família", diz Rubens Francisco, primo do deputado. O prefeito de Sapucaia, Moysés Coutinho (PP), aliado do deputado federal Francisco Dornelles (PP-RJ) também credita a Jefferson grande parte das conquistas do município. "Sou ligado a Francisco Dornelles, mas sempre disse a Roberto Jefferson que se Dornelles deixasse de ser candidato a deputado federal, meu candidato seria ele", confessou.