Título: Cristóvão Buarque deve se desligar do PT e juntar-se ao bloco de oposição
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2005, Política, p. A7

As principais lideranças dos partidos de oposição vão debater hoje, no Congresso, a crise política, analisar detalhadamente as implicações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos fatos até agora revelados e projetar as saídas menos traumáticas para uma transição até 2006. Participarão do encontro parlamentares do PPS, PV, PDT, PFL e PSDB. Foram convidados também integrantes do PMDB - Pedro Simon (RS) e Ramez Tebet (MS) - e até ex-petistas, como o senador Cristovam Buarque (DF), que pretende oficializar hoje o desligamento do PT. O impeachment não é uma tese desejada por nenhum presidente de partido das oposições até o momento. A reunião foi proposta pelo presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), que considera necessário um entrosamento das oposições diante da "crise republicana". Segundo Freire, "todo cuidado é pouco" ao analisar o cenário. Trata-se "da vigésima quinta hora", acrescenta o presidente do PPS, reportando-se ao filme de mesmo nome de Henri Verneuill, feito em 1967. "É a hora em que os ratos abandonam o navio por medo do naufrágio", disse, enfatizando que essa é apenas uma imagem literária, e não juízo de valor sobre os aliados de Lula. Freire considera "evidente" o envolvimento do presidente dos episódios desvendados pelas CPIs, mas assevera: "Isso não é suficiente para alguém ficar imaginando que se possa decretar o impeachment". O impedimento do mandato de Lula não é algo preponderante no momento, conclui Freire, mas também "não está excluído" das avaliações oposicionistas. Os partidos de oposição já cogitam até um pacto suprapartidário para impedir o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP), de assumir a presidência caso o processo de impeachment contra Lula e seu vice, José Alencar (PL), seja inevitável. Severino, segundo líderes oposicionistas, está envolvido no suposto esquema do mensalão investigado pela CPI Mista, pelo menos indiretamente. "Até que se expurguem todos os culpados, o Legislativo é um poder comprometido. Há um empecilho para uma saída ortodoxa. Por isso, a saída da crise é muito complicada", disse o líder do PFL, José Agripino Maia (RN). Uma das propostas defendidas por Freire para a manutenção da governabilidade é a instalação de uma nova Assembléia Nacional Constituinte, tese que não encontra apoio consistente entre outros partidos da oposição. A gravidade do cenário já leva oposicionistas a considerarem, com excesso de prudência, uma tese antes rechaçada: a antecipação das eleições de 2006. O presidente do PPS considera que o PT encontra-se totalmente desintegrado, e que isso pode provocar impacto na legitimidade do governo. A popularidade de Lula até 2006 pode cair gradual e bruscamente, e a representatividade de grandes partidos também estaria ameaçada, opina o deputado. "Acho ótima a idéia de juntarmos as oposições para uniformizar os discursos e evitar radicalismos e excessos", opinou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Para o tucano, os dirigentes partidários precisam analisar sob o amparo da legalidade toda a crise política, até o fim. O líder do PFL no Senado também considera o momento decisivo. "São os últimos capítulos da novela", compara. Caso o impeachment seja um "ato inevitável", o líder do PFL considera que é preciso haver uma preparação da opinião pública, a fim de evitar instabilidade social. O PFL pedirá hoje à Procuradoria Geral da República que interpele o Tribunal Superior Eleitoral sobre as contas da campanha presidencial de Lula em 2002, devido às informações reveladas pelo publicitário Duda Mendonça à CPI Mista dos Correios. O publicitário confirmou que recebeu recursos de caixa 2, mas enfatizou que a campanha presidencial foi paga dentro de parâmetros legais. A oposição considera a tese frágil.