Título: Ascensão de Serra acirra disputa interna no PSDB para a sucessão presidencial
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2005, Política, p. A7

A fragilidade política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o crescimento de candidatos do PSDB na última pesquisa de intenção de votos do Datafolha animou os tucanos, mas pode radicalizar a disputa interna no partido e abrir a disputa entre os presidenciáveis da oposição. "Parece bom, mas na verdade é péssimo. Qualquer um agora acha que tem chances de ganhar do Lula, então todo mundo quer ser candidato. Se fosse para perder, qualquer um poderia sair. Para ganhar, é outra história", analisou um dirigente do PSDB. Apesar de o desempenho do prefeito de São Paulo, José Serra, ser o melhor até o momento num quadro de disputa com Lula, e de ele já superar o petista na última simulação da pesquisa Datafolha, um integrante da cúpula do PSDB faz uma ressalva: "Se Fernando Henrique quiser ser candidato, acabou. Não tem para ninguém. É uma questão de hierarquia". Porém, se Serra deslanchar nas pesquisas sua candidatura torna-se inevitável, concluem integrantes do PSDB. Os correligionários de Serra não têm nenhuma dúvida de que ele quer disputar a Presidência da República. No entanto, consideram que o quadro é delicado, pois o governador Geraldo Alckmin alimenta o mesmo desejo e confidenciou a aliados, nos últimos dias, que considera ter capacidade idêntica à de Serra para derrotar Lula. Alckmin já foi até criticado por colegas por ter mergulhado durante a crise. Foi aconselhado a se expor mais. A direção do PSDB tenta analisar o quadro com pragmatismo. Considera que a rejeição ao nome de Fernando Henrique tem caído, e que o nome dele se fortalece caso o cenário político seja de "caos demasiado", devido à sua experiência política e administrativa. "Ele vira a bola da vez", assegura um tucano ligado ao ex-presidente. Há, no entanto, várias considerações que pesarão na escolha partidária, tais como: que nome agregaria mais alianças no segundo-turno com partidos de centro-esquerda (PPS, PV, PDT, PMDB); e quem teria o melhor trânsito com o PFL. O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL), considera-se no páreo e articula milimetricamente cada passo de sua estratégia. Maia é um dos mentores da aproximação do PFL com o PMDB. "Essa linha de conversa vai começar. O senador Marco Maciel (PFL-PE) está aguardando o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) para, a partir deste núcleo, se iniciar uma conversa com o PMDB a respeito do quadro político nacional de hoje e amanhã", disse o prefeito ao Valor. Uma liderança do PFL , no entanto, admite que a aproximação do PMDB é uma maneira de "cacifar" o nome de Maia junto ao PSDB. Para o prefeito, a crise política não distancia o PFL do PSDB, apesar de os petistas terem polarizado o embate com os tucanos. "A posição do PFL é exatamente igual à do presidente Fernando Henrique Cardoso", disse Maia, lembrando que o ex-presidente. "Aparentemente existem divergências, mas essas divergências também são internas ao PSDB", concluiu. Cesar Maia diz que, por enquanto, a aproximação com o PMDB visa ao debate sobre a crise política, mas poderá culminar na discussão sobre alianças em 2006. "Começamos tratando da conjuntura, da crise e dos problemas que estamos enfrentando. Se desdobrar para 2006, muito bem", justificou. As oposições da esquerda não estão fora do páreo. Hoje, o senador Cristovam Buarque (PT-DF) deve anunciar seu desligamento do partido. Ele poderá ser o candidato à presidência do PPS, numa aliança com o PDT. No PSOL, a senadora Heloísa Helena (AL) é candidatíssima, e já tem uma projeção nacional nada desprezada por seus adversários. O PMDB governista acha que ainda não é hora de abandonar Lula, mas permanece atento e deixa as portas abertas caso o naufrágio petista seja inevitável. Enquanto isso, o ex-governador Anthony Garotinho mantém a pressão interna para a candidatura própria, ao mesmo tempo que cultiva um bom relacionamento com a atual cúpula do partido, especialmente com o presidente do Senado, Renan Calheiros. (MLD)