Título: Votação do mínimo na Câmara desafia base do governo
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2005, Política, p. A8

Crise Derrota no Senado reduziu as expectativas governistas com a agenda do Congresso neste ano

Em meio à crise política provocada pelo escândalo do mensalão, o governo enfrenta dificuldade para colocar em votação os projetos da agenda mínima do Congresso e será obrigado nesta semana a testar sua fragmentada base aliada. O governo tem até sexta-feira para evitar a aprovação pelo plenário da Câmara do aumento do salário mínimo de R$ 300 para R$ 384,29 definido pelo Senado na semana passada. Depois do susto com a derrota, a expectativa é de que neste semestre o Congresso vote apenas medidas provisórias e matérias consensuais. O PSDB já declarou que vai ajudar o governo a derrubar o reajuste do mínimo, mas avalia que o Palácio do Planalto não deveria levar a plenário matérias de conteúdo fiscal porque o governo poderia ser obrigado a trocar votos da base por sustentação política a líderes que estão envolvidos no escândalo do mensalão. Do contrário, o Congresso poderá gerar enormes rombos nas contas. "Vamos examinar caso a caso e votar o que acharmos importante sem precisar negociar com o governo", afirmou o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA). O líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), também declarou que vai apoiar a derrubada dos R$ 384,29. A votação vai expor mais uma vez a fissura interna do PT. O grupo dos 21 deputados da esquerda, que se separou da bancada depois da denúncia do mensalão, promete não votar para derrubar os 384,29. Querem que a MP perca a validade para que o governo proponha novo valor ao redor dos R$ 300 sem ficar com o ônus político de votar um mínimo menor. A votação do mínimo vai adiar para a semana que vem a apreciação da medida provisória que concedeu benefício a exportadores, a chamada MP do Bem. A situação do relator da matéria, deputado Custódio Mattos (PSDB-MG), expõe a confusão do Congresso com a crise. Ele também é citado como beneficiário de recursos do empresário Marcos Valério, na campanha de 1998. Já o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), precisa se dividir entre reuniões sobre MPs e conversas para tentar acalmar governistas ameaçados de cassação. O novo coordenador político do governo, ministro Jaques Wagner, vai visitar os líderes das bancadas da base aliada na Câmara, mas deve colher antigas reclamações. Na semana passada, em reunião com a "ala governista do PT", foram mantidas as mesmas queixas, de que o governo não atende bem aos parlamentares e não libera a contento as emendas parlamentares.