Título: Inflação não sobe pelo quarto mês seguido
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2005, Brasil, p. A4

Conjuntura IGP-10 recua 0,52% , e desde início da série, em 1993, país não tem deflação por tanto tempo

O país está entrando no quarto mês consecutivo sem avanço de preços. A inflação medida pelo Índice Geral de Preços (IGP-10) registrou taxa negativa de 0,52% em agosto. Em maio, o índice havia ficado estável e depois acumulou taxas negativas em junho (-0,41% ) e julho (-0,37%). No acumulado dos três meses de deflação os preços recuaram 1,31%. A taxa negativa de 0,52% foi a menor desde julho de 2003, quando foi de menos 0,73%. Desde 1993, o IGP-10 nunca registrou três deflações seguidas. Em 2003, contudo, ele acumulou queda semelhante a atual (menos 1,32%) em dois meses. O IGP-10 soma alta de 1,27% no ano e de 4,42% nos últimos 12 meses. No ano passado, ele encerrou com alta de 12,42%. Em agosto, a desaceleração nos preços foi generalizada e atingiu atacado, varejo e construção civil. O movimento de queda, no entanto, teve mais peso nos preços no atacado, cuja taxa passou de menos 0,64% em julho para menos 0,78% em agosto. Os preços agrícolas foram os principais responsáveis por esta desaceleração. A queda aumentou de 0,84% em julho para 1,56% em agosto. Na indústria, a queda foi de 0,52% em agosto, um pouco inferior à retração de 0,57% de julho. A queda de preços no atacado - e que tem reflexos ao consumidor - é influenciada pela baixa cotação do câmbio, pelo choque agrícola positivo e pelo recuo nos preços internacionais de algumas commodities, especialmente as metálicas, segundo avaliação da Rosenberg & Associados. Os economistas da GRC Visão chamam atenção para outro aspecto positivo: a deflação no atacado e a influência sobre os preços no varejo tem ajudado na recuperação da renda real. "Neste ano, a média da variação dos índices gerais (IGP-10, IGP-M, IGP-DI) deve fechar abaixo de 3%, o que será um importante indicador para renda disponível de 2006 uma vez que os reajustes de preços administrados sofrerão menor pressão do que a observada neste ano, quando foram influenciados pela inflação de dois dígitos do passado recente", observou a GRC Visão, ontem, no documento em que avaliou o comportamento recente da inflação. Insumos para a indústria e matérias-primas brutas foram os principais responsáveis pelo menor fôlego dos preços no atacado em agosto. Os bens intermediários (insumos) passaram de uma queda de 0,68% no mês passado para menos 0,88% em agosto, influenciados pela queda nos preços dos combustíveis e lubrificantes, principalmente óleo combustível. O grupo materiais e componentes para manufatura, que reúne itens como ferro, resinas plásticas e químicos e tem forte influência sobre diversos segmentos da cadeia industrial, mostrou aceleração: sua taxa passou de menos 1,86% para menos 1,08%. As matérias-primas brutas registraram queda de 1,46%, ante uma taxa negativa de 1,01% no mês anterior, com o recuo nos preços de produtos como bovinos, soja, aves e leite in natura. A desaceleração nos preços ao consumidor foi bem mais suave do que a verificada no atacado. A inflação no varejo passou de menos 0,04% para menos 0,07% em agosto. Apenas dois grupos apresentaram taxas inferiores às do mês passado: vestuário, influenciado pelas promoções de inverno, e despesas diversas, que registrou menor pressão da mensalidade para internet. Na construção civil, a ausência de reajustes significativos na mão-de-obra resultou numa menor pressão sobre os preços. A taxa dos custos na construção passou de 0,64% em julho para 0,09% em agosto. Os preços foram coletados entre os dias 11 de julho e 10 de agosto e foram comparados com os 10 dias imediatamente anteriores. (Agências noticiosas)