Título: PF descobre que Duda Mendonça mentiu à comissão
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2005, Política, p. A6

A Polícia Federal já tem informações de que o publicitário Duda Mendonça mentiu à CPI Mista dos Correios ao afirmar que a conta no BankBoston de Miami, para operar os recursos da empresa Dusseldorf, em Bahamas, não foi sua primeira conta no exterior ou em paraíso fiscal. O uso de contas no exterior, segundo apurou a PF, data desde 1997, época em que o publicitário trabalhava para as campanhas do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf. A notícia foi veiculada ontem no "Jornal Nacional". Relatório reservado do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal informa que entre 1997 e 2000, Duda e a sócia dele, Zilmar Fernandes da Silveira, fizeram transações de US$ 1,6 milhão com a Ágata Internacional, off-shore nas Ilhas Virgens Britânicas, administrada pelo doleiro Roger Haber. A CPI decidiu ouvir a partir de hoje os doleiros Jader Kalid Antonio, Haroldo Bicalho e Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, para esclarecer a remessa ilegal de recursos para o exterior e seus vínculos com o financiamento de campanhas políticas e o esquema de pagamento do mensalão a congressistas. A CPI ainda precisa votar os pedidos para os depoimentos. Em seguida, uma subcomissão deve viajar a Avaré (SP) para ouvir Barcelona. Preso em Avaré (SP) por evasão de divisas, Toninho da Barcelona afirma, segundo sua esposa e seu advogado, ter informações sobre as remessas de recursos para o exterior para financiar campanhas do PT. De acordo com cartas escritas pelo doleiro, o PT enviaria recursos para o exterior desde a primeira campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989. Além de Toninho da Barcelona, a subcomissão da CPI deve ouvir o depoimento de Haroldo Bicalho, que operaria em Belo Horizonte e teria ligações com o policial David Rodrigues Alves, um dos principais sacadores das contas das empresas de Marcos Valério. Ainda nesta semana, a CPI deve ouvir o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, que admitiu ter sacado recursos das contas de Valério, mas ainda não esclareceu porque sacou e como usou o dinheiro. O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), informou ontem que o ex-chefe de departamento dos Correios, Maurício Marinho, negocia com o Ministério Público uma redução de sua pena por ter sido flagrado ao receber R$ 3 mil de propina em conversa com lobistas na estatal. "Ele fez um depoimento muito importante, que já tem umas 50 páginas. Está colaborando e revelando muita coisa para a Justiça", disse Serraglio. Serraglio disse, também, que "já há indícios" de que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) operava um "esquema de corrupção" em parceria com Marinho. O empresário Marcos Valério de Souza negou ontem que tenha procurado o lobista Nilton Antônio Monteiro para "esquentar" R$ 40 milhões que estão em uma conta no exterior. O mineiro, investigado sob a acusação de ser o operador do mensalão para o PT, distribuiu nota na qual nega conhecer Monteiro, conforme o próprio garantiu à "Folha de S. Paulo". Marcos Valério reafirmou que nunca teve contas no exterior e lembrou que já entregou procuração ao presidente da CPI da Compra de Votos, senador Amir Lando, para que possa buscar recursos em seu nome fora do país e tenha poderes para repatriá-los.