Título: Tucano denuncia sumiço de notas fiscais da DNA
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2005, Política, p. A6

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) levantou, ontem, a suspeita de que pelo menos dez notas fiscais de prestação de serviço emitidas pela DNA Propaganda, uma das empresas de Marcos Valério, sumiram dos arquivos da CPI Mista dos Correios na semana passada. Segundo Paes, essas notas registravam pagamentos entre R$ 600 mil e R$ 700 mil, feitos pelas empresas de telefonia Telemig Celular e Amazônia Celular para a DNA. Os documentos foram apreendidos no início de julho pela Polícia Civil e o Ministério Público de Minas Gerais numa operação em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, junto com outros papéis que seriam queimados por ordem do contador de Valério, Marco Aurélio Prata, e de seu irmão, o ex-militar Marco Túlio Prata. "O sumiço das notas reforça a enorme suspeita de que elas eram frias", afirmou Paes. Segundo ele, a CPI recebeu, na semana passada, o livro caixa das empresas de telefonia que permitiria fazer o cruzamento do conteúdo das caixas de notas fiscais apreendidas em Minas Gerais e as informações prestadas pelas empresas. Responsável pelas investigações do mensalão na Polícia Federal, o delegado federal Luiz Flávio Zampronha afirmou, no final da tarde de ontem, que existem fortes indícios de ocultação de capital nas movimentações financeiras feitas para pagamento de campanhas ao publicitário Duda Mendonça pelo PT. Segundo o delegado, há indícios "tanto dos que remeteram dinheiro para o exterior quanto dos que receberam". Ou seja, não apenas Duda será investigado pela PF, mas os seus pagadores, caso do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Após encontro com o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, Zampronha disse que pretende convocar os doleiros citados no suposto esquema de remessas de dinheiro de partidos para o exterior para ampliar as investigações. Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, que está preso em Avaré, no interior paulista, e já anunciou que está disposto a depor, será convocado. O encontro com Antonio Fernando foi realizado para que a PF e o Ministério Público pudessem definir os próximos passos da investigação. Zampronha explicou que analisa a possibilidade de pedir a quebra do sigilo bancário do publicitário. Como o sigilo se restringe a dados no território brasileiro e a prioridade é rastrear o dinheiro desviado no exterior, o delegado acredita que, por enquanto, será mais produtivo obter as informações através da cooperação internacional com autoridades dos Estados Unidos, país-sede das empresas por onde transitou o dinheiro. "Sabemos que o dinheiro foi para os Estados Unidos e todos os doleiros envolvidos serão ouvidos", disse. (Juliano Basile e Mauro Zanatta)