Título: SEGUIR O DINHEIRO
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2005, Opinião, p. 6

O depoimento do funcionário dos Correios Maurício Marinho ao Ministério Público, em que ele conta a verdade - ou parte dela - aponta o caminho a seguir pelas investigações dentro e fora do Congresso. Filmado pedindo propina em nome do então presidente do PTB Roberto Jefferson, Marinho foi o estopim da crise. Por causa do vídeo, instalou-se uma CPI; em torno do escândalo, Jefferson se desentendeu com o Planalto e resolveu contar o que sabia - ou parte.

Ao confirmar, como revelou O GLOBO, que de fato Jefferson utilizava a estatal para a arrecadação ilegal de fundos, Marinho chama a atenção para as tais "fabriquinhas de dinheiro" exploradas pelo PT e partidos aliados dentro da máquina pública.

A confissão do ex-chefe do departamento de administração de material da ECT ajuda a ressaltar a necessidade de se descobrir a origem efetiva da dinheirama que circulou no propinoduto e na lavanderia criados e explorados por Marcos Valério, Delúbio Soares, Sílvio Pereira e outros. O modelo de assalto aos cofres públicos adotado pelo PTB de Jefferson nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil, IRB, deve ter sido aplicado em outras áreas, onde também houve aparelhamento por parte do PT e aliados.

Se Marinho falou, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares compareceu ontem à CPI do mensalão com a mesma desfaçatez já ostentada na comissão dos Correios. Como se tivesse firmado um pacto mafioso de silêncio, Delúbio repete a inverossímil história dos empréstimos de R$50 milhões liberados pelo BMG e pelo Banco Rural para que Marcos Valério e ele pagassem dívidas do PT. É preciso desvendar como esses supostos empréstimos se encaixam no esquema do valerioduto. Como banco não empresta sem garantias sólidas, ou concede favores temerários - como forjar operações com fins de lavagem - em troca de nada, alguma traficância de interesses deve ter havido nessa negociata. Seja em troca de aplicações de fundos de pensão de empresas estatais aparelhados pelo PT , ou algum outro negócio obscuro.

A iniciativa de Maurício Marinho, pelo conteúdo do seu novo depoimento, pode evitar que as CPIs se resumam a cassar alguns inevitáveis e notórios mandatos, sem contribuir para mudanças que evitem a repetição desses escândalos.

Confissão de Marinho indica rumo para as investigações