Título: Sanches distingue processo de Collor
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2005, Política, p. A7

O ex-presidente do STF, Sydney Sanches, comparou ontem a atual crise política com a que o país passou em 1992, quando, como presidente do STF, conduziu o processo de impeachment de Fernando Collor de Melo. Em sua opinião, as situações são diferentes. "Na ocasião do presidente Collor, a acusação era direta a ele, que estaria envolvido em recebimento de dinheiro que era enviado pelo seu tesoureiro de campanha e em situação que se pretendia pudesse ser indício de corrupção. Além disso, as denúncias eram também de seu irmão, seu motorista e de pessoas muito ligadas a ele. Havia também uma indignação popular muito grande em relação ao presidente, sobretudo em razão do confisco de poupança que provocou uma indignação nacional". Sanches, que participou de um seminário na Fiesp sobre segurança jurídica, afirmou que, diferentemente de 1992, na atual crise há apenas suspeitas de envolvimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Apenas se suspeita de que ele possa saber o que estava acontecendo na área dos financiamentos de campanha e obtenção de recursos. Por ora, é mera suspeita. E os que estão sendo diretamente acusados da prática de falta de decoro no exercício de mandato estão sujeitos às CPIs. Estão todos respondendo por isso. (Mas) se eventualmente o presidente da República tiver incidido em falta de decoro no exercício do mandato, também ele estará sujeito ao processo de impeachment. Até o momento não se tem notícia de fatos concretos que possam incriminá-lo, embora sempre haja a suspeita de que ele soubesse de tudo ", disse. Sobre o pronunciamento que Lula fez na sexta-feira, Sanches afirmou que ele disse o essencial, mas que provavelmente irá fazer mais esclarecedor. O presidente do STJ, Edson Vidigal, que também participou do seminário, também não vê ainda razões para a instauração de um processo de impeachment, em especial porque a maior parte dos fatos ocorridos se referem a quando Lula não havia ainda sido eleito. "Tudo o que tem saído até aqui tem se reportado a fatos anteriores ao exercício do cargo e remetendo-se à campanha eleitoral. Os fatos remetem até aqui, em tese, ao abuso do poder econômico no processo eleitoral." Vidigal também disse esperar um novo pronunciamento de Lula sobre a crise. "Parece que a Nação está querendo ouvir mais. Pessoalmente, gostaria de ouvir mais. Faltou um pouco de convicção na fala. Ele estava meio entalado."