Título: Movimentos sociais pedem mudanças
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2005, Política, p. A7

Mais de 80 movimentos sociais organizados prometem levar hoje às ruas de Brasília 20 mil manifestantes em defesa de uma guinada na política econômica - redução dos juros e do superávit primário - como condição para continuarem acreditando na "correção de rumo" do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar do escândalo das acusações de corrupção que desestabilizam o governo, os movimentos sociais, liderados por Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e União Nacional dos Estudantes (UNE), acham que não têm perspectiva melhor. O secretário de Comunicação da CUT, Antonio Carlos Spis, disse que o movimento sindical já tinha, há bastante tempo, saído do estado de euforia com a vitória de Lula em 2002. "Já tinha caído a ficha", explicou. Tanto é assim que ele admite, até mesmo, o apoio a um candidato que não seja Lula em 2006. Mas essa decepção não significa a defesa do impeachment de Lula. Na opinião de Spis, o presidente foi eleito pelo povo e tem direito de cumprir seu mandato até o fim. O dirigente da CUT disse ontem que, em 22 de junho, os movimentos sociais entregaram a Lula a "Carta ao Povo Brasileiro". Esse documento tem sete reivindicações, dentre as quais destacam-se pedidos para reduzir a "taxa de juros mais alta do mundo" e a queda do "superávit primário que apenas engorda os bancos". Spis lamentou que, desde 22 de junho, "as coisas só pioraram". Exemplos disso, segundo ele, são a ampliação do espaço do PMDB nos ministérios e a demissão do petista Olívio Dutra. O secretário de comunicação da CUT disse que Lula precisa mudar a política econômica e provar que vai investir em políticas sociais. "Se isso não mudar, é porque o presidente não quer nosso apoio. Essa política econômica neoliberal do ministro da Fazenda Antonio Palocci, na análise de Spis, recuperou a credibilidade internacional do Brasil e combateu a inflação. Mas, por outro lado, o povo ainda não sentiu benefícios. "É o nosso governo, apesar dos problemas", disse. O dirigente do MST, João Paulo Rodrigues, disse ontem que os sem-terra tiveram a infelicidade de enfrentar oito anos de Fernando Henrique Cardoso e sabem o que é o "tucanato". "O governo Lula, com todos os seus problemas, é melhor que FHC ou a perspectiva de José Serra ou Geraldo Alckmin na presidência", afirmou Rodrigues. O presidente da UNE, Gustavo Petta, advertiu para o fato de que a queda de Lula significa a volta dos conservadores - "Não seremos tropa de choque da direita". Na quinta-feira, será a vez da Força Sindical e outras centrais menos alinhadas ao governo se manifestarem. Os sindicalistas lembrarão que a corrupção afete as negociações da campanha salarial.