Título: BB reforça provisões para cobrir possíveis perdas com o PT
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2005, Política, p. A10

O Banco do Brasil reforçou as provisões (reserva de capital próprio) para cobrir possíveis perdas nos empréstimos ao Partidos dos Trabalhadores e adotou regras internas que vedam a concessão de crédito para agremiações políticas, igrejas, clubes desportivos e associações de classe. O conjunto de medidas para reverter a crise de imagem causada pelas denúncias apuradas na CPI dos Correios inclui ainda a demissão de dez funcionários da área de marketing e auditorias na Previ, o fundo de previdência dos funcionários do BB, e no Banco Popular do Brasil (BPB). "Estamos fazendo uma devassa", disse o presidente do BB, Rossano Maranhão, ao anunciar o balanço do banco. Na primeira vez em que a diretoria do BB se pronunciou sobre as denúncias, o mal-estar ficou por conta do diretor de Tecnologia e Logística do BB, José Luiz de Cerqueira César. Sua presença não estava prevista no anúncio do balanço do banco, mas ele decidiu aparecer de última hora. "Fui vítima de calúnia e interpelei a imprensa judicialmente", disse Cerqueira César, um dos três vice-presidentes remanescentes na diretoria colegiada que foram indicados pelo PT. Ele não esclareceu a que denúncias se referia, mas foram vinculadas nos últimos dias notícias de que a CPI apura de suposta irregularidades na Cobra Tecnologia, cujo presidente, Leandro Vergara, foi indicado por Cerqueira César. "Nos trataram como se fôssemos uma curriola, um bando de bandidos", disse Cerqueira César. O vice-presidente de Gestão de Risco do BB, Adézio de Almeida Lima, informou que o banco reforçou provisões para perdas nos empréstimos ao PT. O banco concedeu, em 2001, de R$ 3 milhões na conta garantida, uma espécie de cheque especial para empresas. Inicialmente, a operação era considerada crédito de risco B, e exigia provisão de 1%. No balanço de junho, a nota foi rebaixada para D, o que significava uma projeção de perda de 10% do valor emprestado. Desde então, em agosto, a avaliação da operação foi mais uma vez revista, para nota H - o que exige uma provisão de 100% do valor. A provisão não significa que o banco desistiu de receber os valores emprestados; é apenas uma avaliação da probabilidade do recebimento. Em agosto, o BB também elevou a provisão para a operação de leasing ao PT, que inicialmente foi contratada em R$ 24 milhões. O crédito, que também era considerado risco B, passou a ser avaliado com a nota E, exigindo provisão de 30%. Lima disse que o PT pagou cerca de um terço do devido. Lima não informou o saldo devedor atual, alegando sigilo bancário, mas disse que cerca de um terço do débito foi amortizado. O partido vinha pagando as prestações em dia -a mais recente venceu em 29 de julho. Rossano disse que a operação atendeu a todos os preceitos prudenciais, mas ponderou que a provisão maior foi inevitável porque, com os fatos apurados pela CPI, mudou a análise de risco do PT. "O PT era cliente do banco desde 2001", afirmou. "O Tribunal de Contas da União (TCU) analisou a operação, e não há questionamentos sobre a legalidade da operação." Mesmo assim, o Conselho de Administração do BB aprovou uma emenda nas normas internas para proibir a concessão de empréstimos para partidos políticos, igrejas, clubes e entidades de classe. "Não há nenhuma suspeição ou arranhão nas áreas operacionais do banco, responsável por gerar resultados", disse. "Mas há sim um problema na área de marketing." Para apurar as possíveis irregularidades, disse, o banco determinou uma devassa nas operações na área de marketing. Foram destacados 38 auditores, e afastados dez funcionários que ocupavam cargos comissionados na área. "Não estamos verificando as operações por amostragem, estamos olhando todas as operações, nota fiscal por nota fiscal." Segundo ele, será realizada nova licitação em setembro para escolher as novas agências de publicidade do BB. Foram designados também 14 auditores para verificar as operações da Cobra Tecnologia, e outros 10 auditores para o BPB. Neste último caso, o objetivo é checar se houve irregularidade na abertura de 270 contas bancárias, a partir de cadastros de clientes de redes de varejo, sem a autorização dos correntistas. Rossano disse que não foi definido o sucessor do presidente do BPB, Geraldo Magela, que anunciou que está de saída. Rossano disse que também está sendo feita auditoria na Previ. Mas ele adiantou que não tem "nenhuma preocupação" com a operação de PUT assinada pela Previ com o Citibank, em que fica acertado que o banco irá vender à fundação a sua participação na Brasil Telecom por cerca de quatro vezes o valor de mercado das ações. "Esse é um assunto que foi amplamente explicado pelo presidente da Previ", disse Rossano. Além da Previ, a BB DTVM também foi submetida auditoria.