Título: Oposições descartam o impeachment
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2005, Política, p. A10

Crise Partidos traçam estratégia para evitar que população culpe Congresso pelo momento político

Diante do consenso de que não cabe às oposições propor neste momento um processo de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dirigentes do PFL, PSDB, PPS, PV e PDT decidiram ontem criar um fórum permanente de debate para monitorar as CPIs, acelerar as investigações e ocupar o "espaço político" que consideram estar vazio diante da incapacidade do governo para gerenciar a crise. "O governo acabou e não podemos deixar o país naufragar", sentenciou na reunião o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). Todos os parlamentares presentes concordaram com a avaliação, mas evitaram discutir a eleição presidencial de 2006 e deixaram bem claro que não estão formando nenhum bloco eleitoral, mas sim uma frente suprapartidária de acompanhamento da crise. A única decisão concreta a partir da reunião realizada ontem é que uma espécie de coordenação única das CPIs vai se encontrar todas as segundas-feiras para analisar cenários, discutir depoimentos, avaliar documentos disponíveis e sugerir procedimentos para dar celeridade inclusive aos processos de cassação que eventualmente possam ser abertos. "Impeachment não se propõe à sociedade. Esperamos que a sociedade nos proponha, e em cima de fatos jurídicos incontestáveis. Não se trata de um tabu. Só não pedimos agora e ainda por falta desses dois pré-requisitos", resumiu o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "Se falarmos em impeachment agora seremos acusados de golpistas. A propulsão desse processo não cabe aos partidos, mas à sociedade", acrescentou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). A reunião quase começou em clima de guerra por causa das inserções feitas pelo PPS na semana passada em cadeia de rádio e televisão, em que o presidente da legenda, Roberto Freire, acusou pefelistas e tucanos de se aliarem ao PT para que as CPIs terminassem sem as devidas apurações. Na abertura da reunião, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), se dirigiu a Freire e disse que acionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que as inserções não sejam mais veiculadas. Freire informou que o próprio partido decidiu suspender a divulgação, diante das novas circunstâncias políticas, e disse que considerava legítima a atitude do PFL. Os dirigentes conseguiram contornar o mal estar e dar prosseguimento à reunião. "Essa questão não poderia impedir nosso diálogo. Há uma questão maior em jogo", disse Freire. O presidente nacional do PMDB, Michel Temer, surpreendeu ao comparecer na reunião das oposições. Temer salientou que o impeachment é um julgamento político e, portanto, de conveniência. O conveniente no momento, segundo ele, é manter a governabilidade e discutir a pauta do Legislativo. "O governo está perdendo autoridade. Os partidos e lideranças do Congresso têm que gerenciar a crise, ocupar um espaço de poder", concluiu o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). A aproximação entre personalidades tão opostas, como Roberto Freire e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), gerou até brincadeiras. "Temos cinco ex-comunistas aqui. Um percentual altíssimo", disse Arthur Virgílio (AM) para Roberto Freire, ex-PCB. O objetivo maior das oposições é unificar discursos e insistir na tese de que o Congresso não é o responsável pela crise. "A idéia é termos esse fórum permanente de discussões para que a sociedade sinta que não há vazio de poder. Os partidos demonstraram ainda preocupação com a paralisia na Câmara devido à exposição negativa de deputados e envolvimento de vários líderes com o suposto esquema de corrupção investigado nas CPIs. Sobre a reforma política, consideram que é necessária, mas um consenso é impossível diante das diferentes teses defendidas por cada legenda. O PFL vai analisar na quinta-feira, em reunião da Executiva Nacional, se pede à Procuradoria Geral da República a reabertura das contas do PT na campanha presidencial de 2002.