Título: Lula não fará novo pronunciamento
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2005, Política, p. A10

Juristas do Palácio do Planalto e do Ministério da Justiça monitoram diariamente as denúncias contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e até agora não encontraram nenhum fato que pudesse levar ao processo por crime de responsabilidade contra Lula. Com base nestas avaliações, o presidente tem se mantido tranqüilo e decidiu só fazer outros pronunciamentos sobre a crise se as investigações mostrarem novas suspeitas de envolvimento de pessoas próximas a ele. Para tentar romper a paralisação do governo, o presidente pediu ontem aos ministros da Coordenação de governo que trabalhem para retomar as votações no Congresso, a começar pela derrubada do salário mínimo de R$ 384,29 aprovado pelo Senado. O presidente vai manter também os encontros com os movimentos sociais sem, no entanto, estimular o acirramento entre os que defendem e os que acreditam no envolvimento do presidente com as denúncias de financiamento irregular das campanhas do PT. Hoje, ele recebe representantes da manifestação contra a corrupção promovida pela União Nacional dos Estudantes (UNE). Para os auxiliares do presidente, ele não estaria, com isso, seguindo o modelo populista. Segundo disse um ministro, se o presidente quisesse de fato mobilizar o movimento social para sua defesa, ele não colocaria os ministros e seus líderes no Congresso para trabalhar pela derrota do salário mínimo de R$ 384,29 aprovado no Senado. "O presidente tem responsabilidade com a economia e não vai usar o orçamento ou qualquer outro instrumento do governo para conseguir apoios. Ele não vai lançar mão em qualquer hipótese da estabilidade da economia", afirmou o ministro. O Palácio do Planalto tenta manter tranqüilidade frente a novas denúncias. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, passa informações diárias ao presidente sobre as investigações, muitas vezes, em conjunto com o diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda. Mas, auxiliares próximos ao presidente questionaram a intenção da CPI dos Correios de convocar o doleiro Toninho Barcelona. O doleiro afirma ter informações de que o PT teria mandado dinheiro de campanha para fora do Brasil desde 1989. "Ele está condenado há quase trinta anos. Fico surpreso que a CPI abra espaço para quem faz ilações sem provas", avaliou um assessor do presidente. Os advogados do governo já avaliaram o depoimento do publicitário Duda Mendonça e a entrevista do presidente do PL e ex-deputado, Valdemar Costa Netto. Segundo eles, nenhum fato citado mostra o envolvimento direto do presidente em irregularidades. O coordenador político do governo, ministro Jaques Wagner, vai ao Congresso procurar os líderes da base aliada e os da oposição para pedir apoio para a votação do mínimo que deve ocorrer na quarta-feira. Wagner também conversou com governadores para pedir ajuda junto às bancadas para derrubar o aumento votado pelo Senado. Os ministros da coordenação de governo também avaliaram que o pedido de desculpas do presidente aconteceu no tom certo, porque do contrário ele poderia perder sua autoridade e dar motivo para que a oposição de fato o apresentasse como responsável por irregularidades no escândalo de financiamento das campanhas do PT. "No discurso, o presidente não poderia ele próprio culpar ou absolver parlamentares ou ex-auxiliares porque ele passaria por cima de investigações da Polícia e do próprio Congresso, com uma condenação prévia", avaliou Wagner. Para mostrar a intenção do governo em ajudar a combater a prática de caixa dois em campanhas e em empresas, o ministro Márcio Thomaz Bastos deve encaminhar ao Congresso na próxima semana o projeto de lei com mudanças na Lei de Lavagem de Dinheiro. O presidente Lula ainda estuda a convocação do Conselho da República, com representantes do Congresso e da sociedade para discutir a crise. Se houver a convocação, ele convidará para a reunião também os ex-presidentes da República, José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.