Título: Renda fixa prefixada sofre com a crise política
Autor: Flavia Lima
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2005, EU &, p. D2

Fundos Algumas aplicações perderam 0,10% apenas na quinta, mas juros mais baixos devem puxar retomada

A crise política atingiu em cheio o rendimento dos fundos de renda fixa prefixados. Dados dos site Fortuna indicam que as carteiras IRF - fundos que buscam seguir algum dos índices de renda fixa disponíveis no mercado e que geralmente ganham com a baixa dos juros básicos - registraram queda média de 0,10% apenas na quinta-feira. Os dois principais índices desse tipo são o IRF-M, calculado pela Andima, e o Índice de Renda Fixa Valor-Ibmec. Até o dia 10, o ganho médio acumulado por estes fundos estava acima da CDI. Com o desempenho ruim do dia 11, o retorno em agosto se igualou ao referencial, em 0,64% até o dia 11. As turbulências que prejudicaram os fundos IRF voltados para investidores individuais são resultado direto do depoimento que o publicitário Duda Mendonça deu à CPI dos Correios na quinta-feira. Em apenas um dia, os mercados abandonaram a euforia causada pelo cheiro de pizza que até então estava no ar e se deixaram contaminar pelo receio de que a crise política chegasse ao Planalto. Os fundos prefixados, que vinham sendo favorecidos pela perspectiva de cortes mais acentuados na taxa Selic, foram prejudicados. Até quarta-feira, os contratos de juros futuros indicavam que o fim do aperto monetário começaria em setembro, sob um corte de 0,50 ponto percentual, seguido por outro, novamente de 0,50 ponto em outubro. Com o agravamento da crise política, os contratos subiram na quinta, desvalorizando os títulos pré e indicando uma baixa de apenas 0,25 ponto em setembro. Ontem, no entanto, a moeda americana fechou o dia em queda de 1,8%, cotada a R$ 2,33 e as taxas de juros voltaram a ceder. O contrato de janeiro de 2007 - o mais líquido - fechou a 17,81%, abaixo dos 17,85% de quinta. Com isso, a expectativa é que os fundos revertam parte da perda registrada na semana passada, diz Fernando Monteiro, sócio responsável pela área de câmbio da Quest Investimentos. "O Banco Central tem condições de ser agressivo nos cortes dos juros tendo em conta o que era impensável há três meses: a inflação convergindo para a meta de 5,1% em 2005", diz o executivo. "Por si só a crise política não deve interferir de modo negativo nesta expectativa, em especial se o dólar se mantiver no nível atual." O investidor parece confiante que a tendência é de nova inversão na curva futura de juros. No acumulado de agosto, as seis carteiras referenciadas a índices de renda fixa listadas pelo Fortuna captaram R$ 20 milhões, ou 2,5% dos R$ 797 milhões recebidos pelo segmento de renda fixa no período - categoria que inclui não só os fundos referenciados a índices de renda fixa, mas também fundos que têm parte da carteira em títulos prefixados e até mesmo fundos DI. As projeções de inflação mais baixas animam aplicações na renda fixa prefixada, afirma o economista e sócio do Fortuna, Marcelo D'Agosto. "Mas as oscilações podem ser grandes, o investidor deve ter cuidado", diz. Segundo D'Agosto, a rentabilidade média anualizada dos fundos DI fica em torno de 14,2%, já descontado um imposto de renda de 20%. "Tendo como base um IPCA de 5,9% no ano, o juro real é de 7,8% no ano", afirma. "É muito, tem muito país que não paga isso nem de juro nominal." Em agosto, excluindo-se as carteiras que acompanham os índices de renda fixa, os fundos DI são os que chegam mais perto do referencial. A alta das carteiras é de 0,61%, ante 0,64% acumulado pelo CDI. A renda variável, no entanto, registra as maiores rentabilidades do período: entre os fundos de ações o ganho médio é de 3,74% até o dia 11, frente alta de 2,27% do Ibovespa. O melhor desempenho, porém, é dos fundos de privatização, em alta de 7,59% no mês - 21,85% no acumulado do ano. Em termos de captação, os DIs só perdem para a renda fixa no mês, com R$ 448 milhões em depósitos. Já os multimercados registraram saques de R$ 164 milhões e os fundos de ações, de R$ 115 milhões. Como um todo, o setor recebeu R$ 1,345 bilhão na semana, o que elevou a captação para R$ 1,736 bilhão em agosto. No ano, as entradas somam R$ 13,258 bilhões, puxadas pelos mais de R$ 24 bilhões recebidos pelos fundos de atacado. O varejo perde R$ 11,6 bilhões em 2005.