Título: China: crescer e ter preços sob controle
Autor: Gonçalves, Marcone
Fonte: Correio Braziliense, 14/04/2010, Economia, p. 17

Encarecimento dos bens de consumo ameaça frear o desenvolvimento econômico. Governo reduz crédito a pessoas e empresas, aumentando os compulsórios dos bancos

Depois de ter ajudado a economia mundial a superar uma de suas piores crises econômicas, a China começa a enfrentar as ameaças geradas pelo seu próprio crescimento. Qualquer que seja a resposta das autoridades chinesas, as economias de todos os países serão impactadas. Para o Brasil, que tem na China seu maior comprador, há riscos e oportunidades, que serão discutidos de amanhã a sexta-feira durante a reunião dos líderes dos países do chamado Brics, que reúne também a Rússia e a Índia.

O problema chinês mais imediato é a inflação, que aumenta impulsionada pela economia muito aquecida. A elevação de preços no mercado interno ameaça, inclusive, interromper o desenvolvimento econômico chinês, responsável pela inclusão de milhões de pessoas no mercado de consumo. Até agora, as autoridades se preveniram recorrendo a instrumentos de política monetária: redução do crédito para empresas e consumidores por meio do aumento dos depósitos compulsórios dos bancos e dos juros.

Para o economista-chefe da ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, o primeiro deficit na balança comercial chinesa e o possível anúncio de redução no ritmo de crescimento que será divulgado nesta semana são resultados das medidas adotadas pelo governo chinês. ¿Para combater a inflação, os chineses estão tentando baixar o crescimento da economia do patamar de 11,7% para 10% ou 9%¿, afirmou.

¿O problema da inflação é uma questão interna. A China consegue suportar uma perda de competitividade no mercado externo, pois precisa manter o crescimento interno forte. Portanto a valorização do yuan é a alternativa mais barata para combater a inflação¿, assinalou Jankiel Santos, economista-chefe do Banco BES Investimento.

A seu ver, o Brasil poderá ser um dos principais beneficiados pelo cenário de dificuldades chinês. ¿A apreciação do yuan ajudará, e muito, a nossa economia. As nossas exportações se tornarão mais competitivas frente aos produtos manufaturados chineses e a demanda por commodities da própria China acabará sendo beneficiada¿, disse Santos.

Além das medidas pontuais, as autoridades chinesas deixaram claro, até o momento, a opção de deixar como está para ver como fica. Para a economista-chefe do ING, Zeina Latif, não se deve esperar nem uma flutuação da moeda ou um aumento de juros que venham reduzir o crescimento da economia. ¿Qualquer medida virá de forma moderada para não comprometer o ritmo de crescimento deles¿, assinalou.

O número 11,7% Projeção de crescimento da economia chinesa em 2010