Título: Ritmo de vendas arrefece no bimestre
Autor: Raquel Landim, Vanessa Jurgenfeld, Heloisa Magalhã
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2005, Brasil, p. A3

Conjuntura Inadimplência controlada faz comércio manter regras de concessão de crédito

Depois de um bom primeiro semestre, o ritmo de vendas arrefeceu no varejo em julho e agosto. Enquanto algumas redes já reduzem as previsões para o ano, com medo dos efeitos da crise política, outras mantém a aposta de recuperação mais firme nos próximos meses. Há sinais de aumento da inadimplência, mas, por enquanto, varejistas e financeiras preferem não adotar medidas restritivas à concessão de crédito. As vendas da Lojas Salfer, a maior rede catarinense de varejo, cresceram, em média, 15% até junho. Em julho, o ritmo caiu. As vendas aumentaram apenas 2,5% em relação a julho de 2004 e ficaram abaixo da previsão de repetir os 15% anteriores. "Foi um julho melhor do que o do ano passado, mas esperávamos manter o ritmo do primeiro semestre. Houve uma procura menor por parte do consumidor e aumento da concorrência", diz o diretor-corporativo da Salfer, Valdemiro Hafemann. Ele acredita, no entanto, que em setembro e até mesmo nos números fechados de agosto a empresa volte ao ritmo mais acelerado de crescimento. Ele não aposta em efeitos negativos da crise política no comércio. Em julho, a Salfer viu crescer, ainda que em pequena escala, a inadimplência. De uma média de 3,5% em junho, os atrasos superiores a 180 dias chegaram a 3,8%. Como o movimento de alta não é relevante, a empresa não estuda mudanças na concessão de crédito. Continuará com parcelas em até 18 vezes, no valor máximo de 35% da renda do tomador. O banco Panamericano registrou aumento da inadimplência em junho e julho em alguns segmentos como móveis populares e eletrodomésticos. Segundo Cecília Adelino Pinto, gerente-geral da divisão de Crédito Direto ao Consumidor, a inadimplência em móveis populares, que gira em torno de 13%, bateu 20% a 24% em algumas lojas. "O fator preponderante é o excesso de crédito", acredita. Segundo Cecília, o Panamericano está realizando uma campanha de cobrança e alterou a política de concessão de crédito apenas nas regiões com alta de atrasos. Para móveis populares, o limite de renda que pode ser comprometido com prestações foi reduzido para 30% (o normal é 50%) em algumas lojas. O banco optou por não reduzir o prazo do financiamento. As vendas da Riachuelo cresceram 44% no primeiro semestre do ano em relação a igual período de 2005. Segundo Flávio Rocha, vice-presidente da empresa, o aumento vem do vigor do consumo e de uma reestruturação interna. Apesar de registrar alta na inadimplência, a rede preferiu flexibilizar a concessão de crédito, por acreditar que os benefícios compensam os riscos. A Riachuelo espera fechar o ano com inadimplência de 5,5%, ante 3,5% em 2004. A rede goiana de materiais de construção Tend Tudo, com lojas no Centro-Oeste, Nordeste e Distrito Federal, avalia que o bom resultado obtido até julho não vai se repetir ao longo do segundo semestre. A empresa, segundo o diretor-administrativo e financeiro, Leandro Marques, está cautelosa quanto aos rumos da economia em função da crise política. "O crescimento de julho sobre junho chegou a 13% foi de 6% sobre o ano passado. Em agosto, a situação mudou", observa. Marques diz que a projeção inicial para o mês era um crescimento próximo de 30% em relação a agosto de 2004. O índice foi revisto para 15%. A mesma previsão agora vale para o ano. Por conta das incertezas, Marques diz a Tend Tudo optou por não formar estoque. "Estamos apenas avaliando as propostas de fornecedores. Estoques para o final de ano somente serão feitos caso o mercado sinalize uma blindagem efetiva da economia", diz ele. Marques diz que a empresa ainda não sentiu impacto direto nas vendas a crédito por trabalhar com financeiras terceirizadas. "O nosso risco está nas vendas com cheques, onde a falta de fundos superou 1%, volume ligeiramente acima do ideal", revela. A CasaShow, rede da família dos supermercados Sendas, trabalha com a perspectiva de fechar 2005 com faturamento de R$ 180 milhões, 10% mais do que em 2004. Guilherme Rodrigues, diretor-geral da rede responsável por oito lojas com produtos para construção civil, identifica um mercado mais aquecido este ano. Mesmo assim, o grupo tem desenvolvido ações para estimular o consumo. No primeiro semestre, as vendas superaram em 6,5% as do mesmo período de 2004. Em julho foram superiores em 6% e para agosto ele projeta alta de 8%. O segundo semestre é, segundo Rodrigues, um período forte para o setor, e a CasaShow está com estoque entre 5% a 6% superior ao do mesmo período de 2004. Uma das saídas para elevar as vendas é o prazo. "Hoje estamos fazendo vendas em seis vezes sem juros, ao invés de quatro, e em até 24 meses pela financeira." As vendas da Dicico, que também atua no varejo da construção civil, aumentaram 40% no primeiro semestre. Excluídas as novas lojas, fica em 15%. Carlos Roberto Corazzini, diretor de marketing da rede, afirma que o desempenho de julho também surpreendeu. No início de agosto, as vendas arrefeceram um pouco, com o consumidor deslocando sua renda para os presentes de Dia dos Pais. Mas ele espera recuperação ao longo do mês. "A gasolina do nosso negócio ainda é o crédito", diz Corazzini. O diretor de marketing da rede de materiais de construção Balaroti, Eduardo Balarotti, com 13 lojas no Paraná e Santa Catarina, disse que em junho e julho as vendas ficaram estagnadas e, na primeira quinzena de agosto, registraram queda de cerca de 3%. O executivo conta que o fluxo de clientes nas lojas está igual, mas o valor das compras diminuiu. Para 2005, a rede esperava crescimento real de 5%, mas a projeção caiu para 1%.