Título: O plano do Opportunity que fez o Citi romper a aliança
Autor: Raquel Balarin
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2005, Brasil, p. A4

Disputa Sócios dizem que Dantas queria vender Telemig à Brasil Telecom

A descoberta de um plano do Opportunity para vender a Telemig Celular sem a anuência dos sócios foi o motivo que precipitou o acordo fechado entre os fundos de pensão, capitaneados pela Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), e o Citigroup, antigo parceiro do Opportunity. O acordo, que está sendo denunciado pelo Ministério Público (ver ao lado), impediu que o controle da Telemig e da Amazônia Celular fosse vendido pelo Opportunity e levou a empresa de gestão de Daniel Dantas a ser afastada também das estruturas de controle de Brasil Telecom (BrT), Sanepar, Opportrans (Metrô do Rio) e Santos Brasil. Entre o fim do ano passado e início deste ano, os fundos, capitaneados pela Previ, chegaram a negociar com o Opportunity um descruzamento de ações na área de telecomunicações. Eles entregariam suas participações na BrT a Dantas e o Opportunity daria aos fundos suas ações na cadeia societária da Telemar. Várias reuniões ocorreram no escritório de advocacia Bocater, Camargo, Costa e Silva, na avenida Rio Branco, no centro do Rio. Mas nunca nenhuma proposta por escrito foi encaminhada - a pedido dos fundos, segundo o Opportunity, que também se disse surpreendido pelo acordo entre Citi e fundos, fechado em março. A conversa não foi adiante, porém, porque os fundos teriam descoberto que o Opportunity queria fazer uma operação que os deixaria como minoritários na Telemig e na Amazônia Celular. Dantas, na época, negociava com a Vivo (as conversas eram capitaneadas por executivos da Portugal Telecom). Queria vender a Telpart, holding que controla as duas celulares, sem qualquer anuência do Citigroup e dos fundos de pensão. De acordo com fonte que participou das negociações, a Vivo nunca chegou a fazer uma proposta com um valor pela participação porque não concordava com a forma como estava sendo estruturada a venda. "Os compradores poderiam ser responsabilizados como cúmplices de um plano para prejudicar os fundos e o Citi. Seria um passivo para o comprador, um risco que ele teria de assumir", informa a fonte, ressaltando que Dantas exigia que a proposta fosse feita sem a chamada "due diligence" (verificação de contas e valores da empresa) e sem o envolvimento de Citi e fundos de pensão. As reuniões com a Vivo - operadora de telefonia móvel controlada pela PT e pela Telefónica - ocorreram, na maior parte das vezes, no escritório do Opportunity em São Paulo, na avenida Brigadeiro Faria Lima, e delas participaram, pelo Opportunity, Carlos Rodenburg, Arthur de Carvalho, Dantas e Naji Nahas. Dantas afirma que as negociações envolvendo Telemig encerraram-se em setembro do ano passado. Mas as segundo fontes ligadas à Vivo elas só foram encerradas em maio deste ano, muito depois das viagens do publicitário Marcos Valério de Souza a Portugal. Executivo ligado à Vivo afirma que, pela forma como conduzia a negociação, o Opportunity não tinha interesse de fato em vender o controle da Telemig para a operadora. Queria, na verdade, ter uma oferta em mãos para balizar a aquisição da Telemig pela BrT, que estava ainda sob seu poder. Por outro caminho, os fundos de pensão tiveram a informação de que Dantas queria vender a Telemig à BrT e a levaram ao Citi. O Opportunity tem dito que a venda da Telemig teria como objetivo maximizar os investimentos feitos por seus sócios. Ela capitalizaria o Opportunity, que tem 49% das ações da holding Telpart, que controla Telemig e Amazônia. Mas traria problemas regulatórios a dois sócios de BrT: os italianos, porque a Telemig opera na mesma área de licença da TIM, e os fundos de pensão, que acumulariam dois conflitos por conta da participação que detêm na Telemar. Dantas se manteria no controle da Telemig e da BrT e poderia, teoricamente, com os recursos recebidos pela venda de Telemig, adquirir a participação dos italianos. Os fundos de pensão consideram que, caso esse desenho se confirmasse, suas participações ficariam sem liquidez e passariam a valer muito pouco. Para o Citi, o fato relevante publicado no dia 04 de fevereiro, informando que o controle de Telemig e Amazônia estava à venda, foi a gota d'água no relacionamento com o Opportunity. Paulo Caldeira, executivo do Citi em Nova York, havia se reunido com a instituição no dia 2, para se informar sobre os investimentos, e não teve qualquer informação sobre a alienação do controle. Em toda a negociação de venda da Telemig para a Vivo, os potenciais compradores não receberam qualquer sinal de que o governo abençoaria a operação e patrocinaria um posterior entendimento com fundos de pensão. Por isso, fonte que participou das conversas considera estranha a versão de que Marcos Valério teria ido a Portugal tratar com o presidente da PT, Miguel Horta e Costa, sobre esse assunto. "Se a idéia era mostrar que o governo queria que a PT fizesse o negócio, bastaria um telefonema de um ministro." A seu favor, o Opportunity argumenta que nunca conseguiu ter grande aproximação com o governo e nega ter usado Marcos Valério para isso. Dantas chegou a se encontrar com José Dirceu, no início do governo, quando o então ministro-chefe da Casa Civil estava interessado em que as disputas entre o executivo, italianos e fundos envolvendo a BrT, uma concessionária de serviço público, tivessem fim. Dirceu, segundo fontes próximas a Dantas, teria recomendado que ele fosse falar com Cássio Casseb, então presidente do Banco do Brasil. Casseb teria sido duro, sugerindo que ele deixasse a gestão dos investimentos dos fundos. Antes de ir para o governo, o ex-presidente do BB chegou a participar da disputa com o Opportunity pelo lado dos italianos. Por isso, teve seus passos monitorados pela Kroll, cujos serviços foram contratados pela BrT. Teria havido mais dois encontros entre Dantas e Dirceu - um deles para comunicar o insucesso do contato com Casseb. O Opportunity nega que tenha sido responsável por qualquer viagem de Marcos Valério a Portugal, apesar dos laços entre a PT e a instituição (o filho de Horta e Costa, que morou no Rio, chegou a trabalhar no Opportunity e a família é amiga de Carlos Rodenburg dos tempos em que viveram na Bahia). Fonte do setor sugere que a conversa entre o publicitário e a PT pode ter girado em torno de um possível lobby para a manutenção da divisão da interconexão (valor que a operadora fixa repassa à móvel quando é feita uma ligação para celular) e a antecipação da entrada da tecnologia 3G. A PT é a única telefônica instalada no Brasil que não tem operação fixa e a Vivo opera a tecnologia CDMA. Telefônicas que iniciaram operações utilizando o GSM querem mais tempo para amortizar seus investimentos antes da entrada da 3G.