Título: Lista deixa relator sob a mira de críticas na CPI dos Correios
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2005, Política, p. A14

Crise "Se a lista for à votação e retirar algum nome vão dizer que começou um ? acordão ? aqui", acusa ACM Neto

A divulgação da lista de 19 deputados citados em episódios relacionados à compra de votos e financiamento irregular de campanhas, no Congresso, gerou um bate-boca entre os integrantes da CPI Mista dos Correios. Sob ataques de parlamentares do PL, PP, PFL e do PMDB, o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), teve que justificar a relação de nomes aos colegas. "Ninguém fez juízo de valor sobre os nomes, não há prejulgamentos. É apenas uma relação de quem terá condições de se defender ao longo do processo", disse o relator. Indignado, o deputado Sandro Mabel (PL-GO) reagiu contra a divulgação e pediu a retirada de seu nome da lista sob a alegação de não ter sido acusado na CPI dos Correios. "Não faço negócios com política. Não saquei dinheiro nem fui citado aqui", disse Mabel. "Olhe com carinho para quem já está ralado. Tenha piedade porque estou com a imagem bastante atrapalhada". Segundo ele, já existe um processo no Conselho de Ética da Câmara para analisar uma denúncia de tentativa de aliciamento para que a deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) mudasse para o PL em troca de R$ 1 milhão. "Houve um engano e peço a retirada do meu nome", apelou ao relator. O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) acusa Mabel de ter sido um dos operadores do pagamento do mensalão a congressistas. Serraglio respondeu que não retiraria o nome de Mabel porque as acusações contra ele na CPI dos Correios são diferentes das acusações feitas por Raquel Teixeira. "Não sou o dono da verdade, mas fui criterioso com a relação", disse o relator. Em meio a troca de acusações, os deputados passaram a criticar o relator e o andamento dos trabalhos da CPI. O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) disse que a divulgação da lista "é péssimo" para a CPI. "Se for à votação e retirar algum nome vão dizer que começou um ? acordão ? aqui", disse. Segundo ele, o melhor seria enviar todos os nomes para o Conselho de Ética ou para a CPI do Mensalão, que apura a compra de votos no Congresso. O deputado Jorge Bittar (PT-RJ) criticou a falta de uma linha de investigação e de planos de trabalho da CPI dos Correios. "Não vamos chegar a nada. Essa CPI é errática, funciona à reboque da imprensa e abandonou as investigações sobre corrupção nos Correios", disse. E também condenou a divulgação da lista. "É um grande equívoco, pois ela não foi discutida no plenário da CPI". Serraglio reagiu em tom veemente: "Ouço com revolta. Temos foco, sim. Vamos ouvir quem tem a ver com os Correios", afirmou. Apesar da declaração de vontade do relator, a CPI encaminha-se a novos depoimentos sem o foco nos Correios. Amanhã, deve ser ouvido hoje o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato acusado de ter sacado R$ 326 mil das contas do empresário Marcos Valério de Souza, apontado por Jefferson como o operador do mensalão a congressistas. "Isso é outra coisa", defendeu Bittar. Também deve ser ouvido o ex-ministro da Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, atual chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, para falar sobre suas ligações e influência sobre dirigentes de fundos de pensão.