Título: "Tele no Brasil faria o repasse", diz Palmieri
Autor: Thiago Vitale Jayme, Ricardo Balthazar e Ivana Mor
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2005, Política, p. A15

Crise Tesoureiro tenta voltar atrás, mas relator registra declaração

O tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, revelou à CPI do Mensalão como seria o esquema de obtenção de até R$ 24 milhões a serem repassados pelo PT. Ele confirmou sua presença em encontro realizado na sede da Portugal Telecom em janeiro desse ano ao lado do empresário Marcos Valério de Souza. Segundo sua versão, a reunião com o presidente-executivo do grupo Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, foi para tratar do dinheiro e teria o aval do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu. "O dinheiro entraria por meio de uma tele no Brasil", disse, ao final de seu depoimento. Durante todo o dia, contudo, Palmieri negou que soubesse como seria o esquema e que desconhecia o conteúdo do encontro de Marcos Valério com Miguel Horta. Disse que o empresário se identificou na empresa portuguesa como emissário do PT. "Chegando na Portugal Telecom, fomos direto para o último andar onde o Marcos Valério foi atendido pelo senhor Miguel Horta. Eu e Rogério Tolentino (advogado e sócio de Valério) ficamos do lado de fora. Meia hora depois, ele saiu da sala e disse que estava tudo resolvido. Fiquei irritado. Fui até lá para testemunhar o acordo e Marcos Valério não me deixou participar do encontro", falou Palmieri. Diante das perguntas sobre como a Portugal Telecom repassaria o dinheiro ao PT, Palmieri dizia não ter conhecimento. "O Valério sempre dizia que era algo com teles. Disse que a Portugal Telecom estava interessada em comprar a Telemig Celular. Mas não me disse mais nada", repetiu por várias vezes. Deputados e senadores, irritados, disseram que Palmieri mentia. Ao final do depoimento, o deputado Mendes Thame (PSDB-SP) perguntou se Palmieri, como bancário aposentado, não sabia da impossibilidade de se esconder uma transferência de dinheiro do exterior para o Brasil. Ao responder, Palmieri disse que "o dinheiro não viria de lá para cá", mas que seria repassado "por meio da tele no Brasil". A Portugal Telecom voltou a divulgar nota sobre o assunto ontem, reiterando que jamais participou de qualquer encontro para discutir ou negociar operações para financiar partidos políticos brasileiros. Quando o presidente da CPI, Amir Lando, comentou se tratava de revelação importantíssima, Palmieri tentou alterar a versão. Lando o impediu: "Já está nos autos. O que foi dito, foi dito". O depoimento de Palmieri apresentou diversas contradições em relação às versões de Marcos Valério e do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ). Ele negou ter recebido R$ 2,5 milhões das contas das empresas de Valério no Banco Rural e reconheceu apenas três saques: um de R$ 145 mil e dois de R$ 200 mil. O tesoureiro do PTB disse desconhecer Luiz Carlos Miranda Farias, ex-candidato a deputado federal pelo PTB em Minas. Segundo Valério, ele seria o autor de dois saques de R$ 1 milhão em nome de Palmieri. "Nunca o vi. Não sei quem é", disse. Ele confirmou a versão de Jefferson de que o partido recebeu R$ 4 milhões de Marcos Valério, entregues por ordem de Delúbio para financiar as eleições de 2004. Confirmou que o dinheiro chegou em duas parcelas (R$ 2,2 milhões e R$ 1,8 milhões) e que colocou-as no cofre do partido, em Brasília. Mas não confirmou que o dinheiro foi repassado a deputados. "Tenho convicção de que não foi distribuído o dinheiro", afirmou. Se o dinheiro tivesse sido distribuído, a crise interna para obtenção de verbas teria arrefecido, disse, mas " a pressão continua até hoje". Ele admitiu ter participado de "3 ou 4" reuniões com a cúpula do PT - sempre com a presença de José Genoino, Delúbio e Sílvio Pereira - para tratar dos acordos entre o PTB e o PT e que presenciou várias ligações dos três dirigentes para Dirceu. "Ele sempre dizia que estava tudo ok", revelou, ao se referir ao ex-ministro da Casa Civil. Marcos Valério reagiu ao depoimento de Palmieri. Segundo o empresário, o petebista "mentiu" quando declarou que ele se apresentou à direção da Portugal Telecom, em Lisboa, como "Marcos Valério do PT". "Já previa que Emerson Palmieri não confirmaria", declarou. Marcos Valério afirmou que não ficou surpreendido pelas mentiras do tesoureiro e disse estar convencido de que elas são fruto do medo que Palmieri tem por Roberto Jefferson. Depois de Palmieri, Jacinto Lamas, tesoureiro do PL, falou à CPI. Nervoso, com dificuldades para responder perguntas simples, teve quatro crises de riso. Revelou que sofreu ameaças depois do vazamento à imprensa de seu depoimento à Polícia Federal e admitiu ter recebido dinheiro das empresas de Valério em nome do ex-deputado federal Valdemar Costa Neto. "Imaginava que se tratava de algo pessoal entre o Delúbio e o Valdemar", disse.