Título: Com devolução da Varig, jatos da Embraer saem da aviação comercial
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2004, Empresas, p. B2

Com a desativação de sete rotas regionais nos próximos dias, saem de cena os últimos aviões da Embraer que ainda eram utilizados em linhas comerciais da Varig. Os vôos que a empresa está abandonando, para cidades de médio porte, são operados por seis ERJ-145, aeronave com capacidade para 50 passageiros. A partir de novembro, apenas pequenas companhias regionais, como a Rico e a Ocean Air, continuarão usando jatos da Embraer. TAM, Gol e Vasp não têm aviões brasileiros na frota. " É um grande paradoxo que o quarto maior produtor mundial de aeronaves não tenha jatos voando no seu país de origem " , observa Cláudio Toledo, economista do Sindicato Nacional dos Aeronautas. A Varig já chegou a ter 15 unidades desse modelo, quando fazia planos de chegar ao aeroporto de Santos Dumont, no Rio, com eles. Mas esse plano nunca foi colocado em prática, a não ser para vôos em fins de semana e feriados ligando o Santos Dumont a Congonhas. " Proporcionalmente, sai mais caro comprar um avião da Embraer do que um Boeing 737 com capacidade bem maior " , afirma o porta-voz da Varig, João Zacarias Filho. O modelo ERJ-145 faz as sete rotas que serão desativadas até domingo: Araguaína (TO), Araxá (MG), Carajás (PA), Lençóis (BA), Montes Claros (MG), Vitória da Conquista (BA) e Tucuruí (PA). As aeronaves serão devolvidas à empresa responsável pelo leasing, mas já têm destino certo. O Comando da Aeronáutica receberá os jatos, que farão as rotas internacionais do Correio Aéreo Nacional, reativadas no início de outubro, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para chegar aos países do Mercosul. Em linhas comerciais, porém, sobram aviões da Embraer apenas em pequenas companhias aéreas. A Rico, que opera na Região Norte, tem em sua frota seis aeronaves com capacidade para 18 passageiros e outros três aviões que carregam até 30 passageiros. A empresa sofreu um abalo após a queda, nos últimos anos, de dois modelos Brasília que usava, fabricados pela Embraer. A preferência das grandes empresas por jatos produzidos no exterior se justifica. Não há nenhum incentivo, hoje, para a compra de aviões da Embraer. Já a exportação é beneficiada por uma série de programas que desoneram a aquisição por companhias estrangeiras. Se forem para o exterior, as peças usadas nos aviões não pagam Imposto de Importação, por causa do regime de " draw back " . Se ficarem no país, pelo contrário, acabam sendo tributadas. Para acabar com a contraditória situação, o governo estuda mecanismos para permitir o financiamento em reais, por meio do BNDES, da compra de aviões pelas aéreas. Hoje, o financiamento só pode ser feito em dólares.