Título: PSB teme disputa pelo cargo de presidente da legenda
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2005, Política, p. A15

O PSB perde seu principal líder num momento em que a legenda trabalha com a expectativa de crescimento de filiados e expansão política no cenário nacional. O cargo de presidente da legenda passa a ser temporariamente exercido pelo ex-ministro Roberto Amaral até que o PSB realize seu congresso nacional no sábado. Integrantes do partido acreditam que o controle partidário deve permanecer nas mãos do grupo político de Arraes, ou seja, do deputado e ex- ministro Eduardo Campos. Uma corrente do partido, no entanto, teme uma disputa entre o grupo de Campos com Roberto Amaral. Outros, apostam na formação de uma chapa única em nome da memória de Arraes. O presidente interino do PSB afastou-se do comando partidário após curtíssima gestão - considerada desastrada por integrantes do Executivo - no mesmo ministério hoje ocupado por Campos. Roberto Amaral foi nomeado ministro da Ciência e Tecnologia, na formação do governo Lula, sem a anuência do presidente do PSB, Miguel Arraes. Amaral negociou diretamente com o presidente Lula e com José Dirceu. Em janeiro de 2004, Lula demitiu Amaral e nomeou Eduardo Campos, neto de Arraes e então líder do PSB na Câmara. Amaral atribuiu sua demissão, então, a uma manobra de Campos. A amplitude da crise política também pode levar o PSB a rediscutir o posicionamento na aliança com o governo. Apesar das ponderações em relação à política econômica, era Arraes quem segurava, com o pulso firme, o partido ao lado de Lula. Já há parlamentares da legenda que não defendem a permanência da coalizão com o PT caso o presidente Lula tente a reeleição. Miguel Arraes nunca deixou de fazer diretamente a Lula, críticas e ponderações. A última conversa franca entre os dois - com a presença de líderes partidários - foi em março deste ano. Arraes deixou claro a Lula que o partido é um fiel colaborador do governo, mas que sempre "tensionaria pela esquerda". A mais nova estrela do PSB, Ciro Gomes, poderia ser uma opção das esquerdas para a presidência caso Lula se afaste da disputa em 2006, sustentam esses parlamentares. O ministro da Integração Nacional não pretende se apresentar para presidir o partido no lugar de Arraes. "O Ciro já deixou bem claro que não quer o controle do partido", garante um dirigente da legenda. Eduardo Campos voltou à Câmara no núcleo escalado por Lula para organizar a base aliada, implodida com a crise. A saída do ministro, no entanto, provocou descontentamentos no PSB. O ex-ministro poderá disputar o governo de Pernambuco, rivalizando com o ex-ministro petista Humberto Costa. Se chegar à presidência do PSB, Eduardo Campos deve se manter fiel a Lula até o final do governo. O trabalho dos dirigentes partidários, a partir de agora, será dar prosseguimento à política iniciada por Arraes, de atração de nomes de destaque no cenário nacional para a legenda, na esteira da filiação de Ciro Gomes. A direção do PSB também negocia a filiação de outros governadores, como o do Espírito Santo, Paulo Hartung - que se desligou da legenda -, do Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), e da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB). A estratégia dos socialistas é crescer para superar a cláusula de barreira - pela legislação vigente, nas eleições de 2006, o partido que não obtiver 5% dos votos ficará sem representação no Congresso e horário gratuito na televisão. Uma outra possibilidade que já começa a ser discutida no Congresso é a fusão com o PCdoB, que teria mais dificuldades de alcançar a cláusula de barreira. Esta hipótese existiria no caso de não vingar, na reforma política, a proposta de criação da federação de partidos. A avaliação da cúpula do PSB é que, num momento de crise política e fragilidade de partidos políticos diante das últimas denúncias de corrupção que afetam diretamente o Congresso, a legenda tem a história preservada, assim como sua associação com "a esquerda". A denúncia do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), de que parlamentares da base aliada teriam recebido um pagamento mensal de R$ 30 mil para votar com o governo, atingiram em cheio o PP e o PL. Sem contar na direção do PT, que na metralhadora giratória de Roberto Jefferson é incluída no rol de denúncias. Esse cenário, acreditam parlamentares do PSB, abre espaço para novas filiações e crescimento da bancada na Câmara, hoje com apenas 20 deputados. O PP tem 55 deputados, o PTB de Jefferson 45 parlamentares e o PL está com uma bancada de 50 integrantes. "Há parlamentares sérios que não querem ficar nessas legendas", avaliou um membro do PSB.