Título: Para FHC, crise atual é mais grave que a do governo Collor
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2005, Política, p. A16

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em entrevista ao apresentador do "Jornal da Band", Carlos Nascimento, que a crise política pela qual passa o Brasil hoje é mais grave que a enfrentada pelo governo Fernando Collor. "Nenhuma das denúncias saiu da oposição e sim do próprio PT, o partido do presidente", disse. Fernando Henrique fez duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora tenha dito que o impeachment "não é iminente", afirmou que para governar é preciso mais do que popularidade. "O presidente Lula tem ainda um pouco de popularidade, mas é preciso mais para governar, é preciso respeitabilidade, é preciso que ele mostre liderança num momento como este." Para ele, o momento atual é uma "distorção da vida democrática republicana". Fernando Henrique chamou o presidente Lula de "omisso" e disse que ele ainda deve explicações à sociedade. "A população não está satisfeita, nem mesmo o PT está satisfeito com o discurso que o presidente fez. Ele disse que foi traído, mas traído por quem?", indagou. Na sua análise, não dar mais explicações é "politicamente ruim" para Lula: "Ele vai enfrentar uma eleição." Os conselhos pararam por aí: o ex-presidente disse que, se procurado por Lula, o atenderia apenas por cordialidade: "O momento não é bom para conversar. Iria parecer cambalacho." Fernando Henrique criticou o PT por ter, segundo ele, assumido o governo sem ter um programa, "sem ter um rumo", acrescentando que o governo Lula simplesmente manteve a política econômica de seu governo. "Em alguns pontos foram mais radicais, como nessa questão dos juros." O ex-presidente rebateu as denúncias de que sua reeleição só foi possível porque a base governista foi cooptada por meio da compra de votos. "É possível que tenha havido uma ou outra coisa", disse. "Mas não teve nada a ver comigo". Ele continua favorável à reeleição, embora assegure que não será candidato à presidência em 2006. "Já fui presidente, o PSDB tem ótimos candidatos e eu tenho 74 anos."