Título: UNE, MST e CUT saem em defesa de Lula
Autor: Mauro Zanatta e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2005, Especial, p. A20

Crise Presidente recebe dirigentes e diz que o superávit primário "não ficará em 5% como andam dizendo"

Em meio à grave crise política causada pelas denúncias de corrupção, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, no Palácio do Planalto, dirigentes sindicais, estudantes, sem-terra e sem-teto que ontem defenderam seu mandato e protestaram contra a abertura de um possível processo de impeachment no Congresso. Segundo relato dos manifestantes, Lula disse, durante a reunião de quase três horas, que as denúncias de compra de votos de deputados e pagamento de mensalão não atingirão "sob hipótese nenhuma" ele ou seu governo. O presidente disse não ficará refém do Palácio e continuará com os contatos públicos. "Não vou ficar isolado, choramingando aqui no Palácio. Vou continuar viajando pelo país para inaugurar obras e ter contato com o povo. Não há crime de responsabilidade", disse Lula, segundo relato do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Felício. "Ele foi categórico ao dizer isso". Na reunião, que teve uma exposição de quatro ministros da área social sobre os avanços do governo, Lula também reafirmou que considera os juros de 19,5% da economia "ainda muito altos" e que o superávit primário "não ficará em 5% como andam dizendo". Segundo Lula, "há divergências no governo sobre o superávit, juros e a política econômica". Os dirigentes pediram para mudar a política econômica, reduzindo juros e superávit primário. A manifestação de ontem teve a participação de cerca de 10 mil pessoas. Com os rostos pintados de verde e amarelo, eles percorreram a Esplanada dos Ministérios para demonstrar seu apoio ao presidente Lula e defender a apuração dos indícios de corrupção. Os discursos também incluíram críticas à política econômica do governo. Acusados de "chapa branca" pela oposição, os manifestantes deixaram claros os objetivos da marcha." É errado abrir o impeachment contra o presidente da República. Somos contra o golpe. O Lula, para nós, é um símbolo. A relação que ele estabeleceu com os movimentos sociais não nos permite duvidar da honestidade dele e da história dele. Estamos aqui dizendo: apuração sim, impeachment não", resumiu o presidente da CUT, João Felício. A marcha comandada por três trios elétricos de sindicatos começou por volta das 9h, protestou em frente ao Ministério da Fazenda, deu uma volta na Esplanada e parou em frente ao Congresso. Estudantes entraram no espelho d ? água, mas não houve registro de incidentes. Dois mil policiais acompanharam o protesto, organizado pela União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Movimento dos Sem-Terra (MST) e pela CUT. Os manifestantes portavam bandeiras do PT, CUT, MST, sindicatos e do PCdoB. O presidente da UNE, Gustavo Petta, disse que o governo Lula pode perder apoio dos movimentos sociais se não mudar política econômica. "O governo pode agonizar se não sinalizar". Hoje, haverá outro protesto na Esplanada. Desta vez, contra Lula. A Coordenação Nacional de Lutas e os partidos políticos PSOL e PSTU farão ato para pedir a investigação de Lula pela CPI dos Correios.