Título: Socorro da Brasil Ferrovias vai exigir R$ 954 milhões
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2004, Empresas, p. B7

Transporte Montante inclui dinheiro novo e conversão de dívidas

A Brasil Ferrovias, holding que controla três das principais malhas ferroviárias do país, e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) oficializaram, ontem, acordo que permitirá a reestruturação societária do grupo. O banco e a holding assinaram protocolo de intenções que prevê o aporte de R$ 540 milhões em capital novo na Ferronorte e na Novoeste, ambas concessões da Brasil Ferrovias. Os sócios da holding e o BNDES se comprometeram ainda a capitalizar créditos antigos em ações das duas empresas, num total de R$ 414 milhões. Ou seja, o montante global da operação, entre dinheiro novo e conversão de dívida, soma R$ 954 milhões. Só o BNDES irá aportar R$ 654 milhões, sendo R$ 405 milhões em capital novo e R$ 249 milhões referentes à conversão de parte da dívida da Ferronorte com o banco. Dessa forma a dívida da Brasil Ferrovias com o BNDES, que soma R$ 1,6 bilhão, cairá para cerca de R$ 1,35 bilhão. A operação permitirá ao BNDES deter 31% da Ferronorte, com assento no conselho de administração. Previ e Funcef, controladores da Brasil Ferrovias, vão aportar R$ 135 milhões na Novoeste, dos quais R$ 15 milhões poderão ser captados no mercado. Além disso, os acionistas da Brasil Ferrovias vão capitalizar mútuos e converter debêntures em capital da Ferronorte e da Novoeste por R$ 165 milhões. "Essa operação é um marco histórico porque traz de novo a concepção ferroviária para o centro da solução de transporte no Brasil", avaliou o vice-presidente do BNDES, Darc Costa. A Ferronorte é estratégica porque corta os estados do Mato Grosso e Mato Grosso Sul, servindo para escoar a safra do Centro-Oeste até o porto de Santos pelos trilhos da Ferroban, controlada pela Brasil Ferrovias. Dalmo Marchetti, do departamento de logística do BNDES, explicou que, dos R$ 405 milhões a serem aportados pelo banco na forma de dinheiro novo, R$ 150 milhões serão em capital na Ferronorte, R$ 135 milhões na forma de financiamento à mesma empresa e R$ 120 milhões na emissão de debêntures da Novoeste conversíveis em capital da Ferronorte. Darc Costa informou que ainda há negociações em curso com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), órgão regulador do setor, e com o Tesouro Nacional, as quais definirão o quadro final da operação. A Brasil Ferrovias discute com a ANTT um Termo de Ajustamento de Conduta, que incluirá obrigações e investimentos a serem feitos pela holding. Além disso, a holding negocia com o Tesouro a regularização de pendências de arrendamento e acordos sobre litígios judiciais em prazo máximo de 180 dias. "Quando firmarmos os contratos não devem haver pendências", sinalizou Costa. O presidente do conselho de administração da Brasil Ferrovias, Guilherme Lacerda, lembrou que o grupo não é o único com pendências junto ao Tesouro, e acrescentou que caberá ao banco avaliar a situação antes do primeiro desembolso. Ele lembrou que o BNDES fez exigências que mostram que o acordo se ateve "à boa técnica bancária", tentando recuperar crédito em situação delicada. Lacerda informou que em 2005 o grupo estará investindo R$ 400 milhões incluindo a compra de 1,6 mil vagões e 70 locomotivas. Para o período 2005-2009, o plano é investir R$ 1,6 bilhão. O planejamento também prevê a construção de um ramal rodoviário com cerca de 18 quilômetros no acesso ao porto de Santos, num investimento de R$ 20 milhões que depende de negociações com a MRS e a ANTT. "Com o apoio do BNDES, vamos colocar a empresa no papel que ela representa no cenário econômico e na matriz de transporte do Brasil", previu Elias Nigri, presidente-executivo da Brasil Ferrovias.