Título: PT pede desculpas e Tarso negocia com Dirceu
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2005, Política, p. A4

Crise Presidente do partido enfrenta dificuldades para convencer ex-ministro a abdicar da disputa interna

Um dia depois de ter conseguido aprovar uma resolução na qual o PT pede desculpas por seus erros, o presidente interino do partido, Tarso Genro, reuniu-se com o ex-ministro José Dirceu e tentou convencê-lo a sair da chapa que disputará o comando da sigla em 18 de setembro. Na nota , "o partido faz seu primeiro pedido de desculpas à Nação, pois os atos que nos comprometem, moral e politicamente, foram cometidos por dirigentes do PT, sem o conhecimento de suas instâncias" . A investida de Tarso levou o ex-ministro a divulgar uma nota: "Da mesma maneira que não renunciei ao mandato, não renunciarei à candidatura na chapa do campo majoritário para o Diretório Nacional" . Dirceu disse que foi convidado a integrar a chapa pela unanimidade de seus integrantes e que vai ainda consultá-los sobre a sugestão recebida de "dirigentes" do partido. O movimento de Tarso agravou a crise interna do PT, o que pode levar o chamado Campo Majoritário do partido até a apoiar um candidato da esquerda, como Valter Pomar. Dirceu elogiou a tese defendida por Pomar na última reunião do diretório, que classificou de "consistente". Paralelamente, Tarso articula com o senador Aloizio Mercadante (SP), com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o "racha" do campo majoritário. A conversa de Tarso com Dirceu seria para "pôr o pingo nos is", segundo aliados do ex-chefe da Casa Civil. Dirceu recusa a acusação de que tem conspirado contra a candidatura de Tarso, levando-o a sucessivas derrotas nas instâncias do partido. Na reunião da Executiva Nacional realizada na noite de terça-feira, o ex-ministro da Educação voltou a ver propostas suas rejeitadas, como a que previa a abertura de processos, na Comissão de Ética, contra sete deputados, inclusive Dirceu. A própria resolução, apresentada por Tarso, na qual o PT pede desculpas por seus erros foi "enxugada" pelo campo majoritário. O texto aprovado diz que a direção atual do PT, "em sua composição atual" desconhecia as operações de caixa 2 e que desconhece "se mais fatos dessa natureza virão à tona". O documento original de Tarso prosseguia: "Já que os prováveis e confessos responsáveis por eles não estão informando o partido". Essa parte foi retirada. A proposta de Tarso, ao tratar da economia, também afirmava que "o equilíbrio macroeconômico não é um fim em si mesmo, mas pressuposto para a transição em direção a um modelo de desenvolvimento que contenha políticas de distribuição de renda com crescimento sustentável". Trecho também cortado. De acordo com integrantes do Campo Majoritário, o problema de Tarso não é Dirceu, mas o conteúdo das propostas. Fora dos textos, as críticas do presidente do PT à política econômica, que a maioria do partido apoiou por 31 meses, seriam ainda mais contundentes. A Secretaria Nacional de Movimentos Populares do PT, por exemplo, fez convocação para a manifestação em favor de Lula, com a palavra de ordem "contra a política econômica e a corrupção". Na conversa de ontem com José Dirceu, Tarso Genro tentou convencê-lo de que sua eventual saída da chapa não significaria uma confissão de culpa, mas um gesto de grandeza que ajudaria na repactuação do partido. Dirceu tem a visão diametralmente oposta e acredita que, como um quadro histórico do PT, não deve ficar fora da chapa. Sair, acredita, é como se fosse antecipadamente condenado, nem precisaria passar pela Comissão de Ética. Dirceu avalia que o problema entre ele e Tarso é de visões diferentes do que cada um acha melhor para o PT. O ex-ministro, por exemplo, considera acertada a decisão da Executiva Nacional de constituir uma comissão de sindicância para investigar o financiamento das campanhas. Isso permitirá que cada caso seja analisado isoladamente e que a comissão recomende ao diretório, se for o caso, a abertura de processos no Comissão de Ética de acordo com a gravidade da infração imputada, assegurado amplo direito de defesa. No campo majoritário, há quem defenda que o grupo deve fazer a autocrítica e até apoiar um candidato da esquerda, como Valter Pomar. O que o grupo diz não aceitar é que se responsabilize dois ou três dirigentes, como Dirceu e Delúbio Soares, como se eles fossem sozinhos os culpados de tudo. O próprio Delúbio, no depoimento à Comissão de Ética teria afirmado que todos os Estados estiveram em sua sala, durante os acertos de dívidas de 2002 e na preparação para 2004. Só não teria sido procurado pelas campanhas do Piauí, Acre e Mato Grosso do Sul. Além de tirar Dirceu da chapa do Campo Majoritário, Tarso faz dois outros movimentos. Num deles, com o aval do presidente Lula, negocia a composição de uma chapa encabeçada por ele e por Mercadante. Se der certo, o movimento divide o Campo Majoritário, onde Tarso diz que tem o apoio de dois terços dos integrantes, e compõe nova maioria agregando setores da esquerda, como a Democracia Socialista e o Movimento PT. No outro movimento, mantém aberta a expectativa de um adiamento do Processo de Eleições Diretas (PED). Com a reabertura de prazos de inscrição, poderia partir para a articulação de uma chapa nova, sem Dirceu. A decisão será na reunião do Diretório Nacional, adiada de 27 de agosto para 3 de setembro.