Título: CPI do Mensalão tenta linha própria de investigação e convoca Costa Neto
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2005, Política, p. A6

A CPI Mista do Mensalão tentará, a partir da próxima semana, deixar de repetir o trabalho da CPI Mista dos Correios e criar uma linha de investigação própria. Acusados de trabalhar a reboque da comissão "concorrente", os integrantes da CPI do Mensalão aprovaram, ontem, a convocação do ex-deputado federal e presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para a próxima terça-feira. Determinaram também a transferência de todas as quebras de sigilos efetuadas pela CPI dos Correios à do Mensalão. Com o depoimento do presidente do Partido Liberal e os diversos documentos já encaminhados ao Congresso Nacional, deputados e senadores pretendem conseguir algum avanço até agora não alcançado. Hoje, o colegiado toma o depoimento do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Durante a reunião administrativa de ontem, a CPI do Mensalão recebeu críticas do deputado federal Roberto Freire (PPS-PE). "Fazer essa comissão para seguir os passos da CPI dos Correios não faz sentido. Por que ouvir o Delúbio de novo? É preciso ouvir os deputados que receberam dinheiro do Delúbio e deixar que a CPI dos Correios investigue as estatais e quem financiou o esquema de corrupção", reclamou o parlamentar. Ele defende uma maior afinidade entre as duas comissões. "É preciso haver uma sinergia. Mas tenho visto uma dispersão", completou. Os dois presidentes das CPIs parecem tentar estabelecer essa conexão entre as duas investigações. Na manhã de ontem, antes das reuniões administrativas, os senadores Amir Lando (Mensalão) e Delcídio Amaral (Correios) se reuniram. Conversaram sobre o acesso comum dos parlamentares das duas comissões a todos os documentos sigilosos obtidos até agora. Na reunião da CPI do Mensalão, em votações nominais, os parlamentares aprovaram a extenção do acesso aos papéis já reunidos pela CPI dos Correios. O relator da CPI do Mensalão, Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), confessou estar preocupado com a falta de rumo da comissão: "Acho que agora nós vamos conseguir centralizar o foco sim. A quebra dos sigilos para nossos parlamentares vai nos dar mais recursos para podermos investigar e definir quem vamos ouvir". Abi-Ackel reconheceu haver uma confusão entre os trabalhos das duas comissões. Ele disse que quando a CPI dos Correios enviar os nomes dos 19 deputados acusados de receber mensalão à mesa diretora, haverá um conflito de objetivos. "Quando houver o envio, fica um problema por fazermos o mesmo trabalho", disse. O relator, no entanto, defendeu a convocação de Delúbio. "Entre o primeiro depoimento dele e hoje, ficaram abertas muitas questões, como a revelação de origem de recursos e valores de pagamentos. Ele terá de esclarecer muitas coisas", afirmou. O presidente da CPI refuta qualquer inatividade por parte da comissão. "A CPI dos Correios ficou mais ampla por ter sido aberta primeiro. Mas nós estamos no específico, na investigação dos recebedores do dinheiro", disse Amir Lando. Tanto o relator quanto o presidente da CPI já defendem a convocação dos deputados acusados de receberem dinheiro, mesmo com o envio de 19 nomes de parlamentares pela CPI dos Correios ao Conselho de Ética. "Não podemos punir ninguém sem ouvir a todos os envolvidos", disse Abi-Ackel.