Título: Depoimento de Barcelona é visto com cautela
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2005, Política, p. A6

Governistas e oposicionistas da CPI Mista dos Correios concordaram ontem, durante um almoço, em baixar o tom das declarações feitas pelo doleiro Antônio Oliveira Claramunt, conhecido como Toninho da Barcelona, em depoimento prestado na terça-feira a parlamentares da comissão na capital paulista. O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), classificou de "bizarra" a idéia da convocação de integrantes do governo para explicar suas ligações com o doleiro ou com supostos esquemas de envio ilegal de dinheiro ao exterior. "Não podemos deixar vir à tona nomes de pessoas injustamente. Ele foi condenado e procura holofotes para se proteger", resumiu. Alguns integrantes da CPI falaram em convocar à CPI o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O deputado relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) seguiu na mesma linha de Amaral e descartou, "por enquanto", a convocação de Barcelona pela CPI. "Não há ressalvas para convocações, mas temos que ter critérios". Segundo ele, foram nomes "lançados" pelo doleiro sem nenhuma comprovação. E insinuou: "Ele não falou sobre envio de recursos para o PT. Disse que eram de vários partidos", afirmou Serraglio. Aos parlamentares, Barcelona deu um quadro genérico de como operava as remessas para o exterior. "Ele falou em bancos, como o MTB Bank, de Nova York, e deu nomes de contas", disse o relator. Parlamentares do PSDB defenderam também cautela da CPI para uma eventual convocação de Barcelona. O sub-relator de movimentação financeira, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), disse que a "bola" estava com o Ministério Público. "Os procuradores devem decidir se aceitam ou não o pedido de delação premiada feito por ele", disse. A delação permite redução de pena em troca de informações. Barcelona está preso em Avaré (SP) por crime de evasão de divisas. Mas como o doleiro já foi condenado, deve ficar difícil essa negociação com o MP, prevêem integrantes da CPI. Gustavo Fruet disse que o depoimento do doleiro foi importante, mas condicionou a ida de Barcelona à CPI à apresentação de provas. "Não adianta vir para repetir o depoimento". O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) pediu "prudência" aos colegas da CPI. "Ele está preso e seu principal interesse é reduzir a pena. Por isso, ele diz qualquer coisa", afirmou. A CPI aguardará o depoimento de Barcelona à Justiça Federal em Curitiba, onde correm outros processos contra ele por evasão de divisas, para decidir se convoca ou não o doleiro. Na sessão de hoje, a CPI dos Correios deve fazer uma disputada reunião administrativa, quando discutirá as convocações de Daniel Dantas, do Opportunity, cujas empresas de telefonia estão entre os maiores depositantes nas contas do valrioduto, e Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. Em seguida, ouvirá o depoimento do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, beneficiário de um saque de R$ 326 mil das contas das empresas de Marcos Valério de Souza e acusado de beneficiar suas agências em licitações de publicidade no banco estatal. Pizzolato deporá com habeas corpus.