Título: Inflação no atacado sobe 1% e pressiona os juros nos EUA
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2005, Internacional, p. A9

Preços Maior alta em 9 meses pode levar empresas americanas a repassar seus custos ao consumidor

Os preços no atacado registraram em julho uma alta significativa nos EUA, superando em muito a inflação ao consumidor. Isso indica que os empresários americanos ainda estão segurando o repasse de preços apesar dos custos mais altos das matérias-primas. Os preços pagos aos produtores subiram 1%, a maior alta dos últimos nove meses, puxados pela disparada dos custos com combustíveis. Foi o dobro do que os economistas previam e também uma guinada frente ao desempenho estável do mês de junho. Excluindo componentes voláteis como energia e alimentos, o chamado núcleo do índice cresceu 0,4% (a expectativa era de um ganho de 0,1%).

Nos últimos 12 meses, o índice cheio dos preços ao produtor subiu 4,6%, e o núcleo, 2,8%. Esta é a maior alta do núcleo em 12 meses desde novembro de 1995. O resultado reforça expectativas de que o Fed, o banco central dos EUA, continuará elevando a taxa de juros até o final do ano. "O número de ontem significa que o Fed manterá a elevação da taxa de juros", disse Neal Soss, economista-chefe do Credit Suisse First Boston em Nova York. "Eles têm sido claros a respeito de suas intenções." O rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA subiu após o relatório sugerir que os produtores poderão repassar a alta dos custos das matérias-primas à medida que a demanda se fortalece. Na semana passada, o Fed disse que a pressão dos preços permanece elevada e sinalizou que aumentará os juros para conter a inflação. De modo geral, aumentos nos preços no atacado tendem a levar a aumentos similares no varejo, já que as empresas buscam compensar os custos mais altos via consumidor. Mas isso não está acontecendo desta vez. Na realidade, alguns setores - como o automotivo - estão praticando descontos agressivos na tentativa encorajar os americanos a comprar mais. Economistas e traders demonstraram ontem não se importar muito com o dado. "Não colocaríamos muito peso nesse resultado do atacado", disse Jan Hatzius, economistas da Goldman Sachs. "O núcleo do índice de preços de produtos intermediários - importante ferramenta de medição da inflação futura - registrou o terceiro mês de queda, de 0,1%". Os economistas acreditam que a inflação no atacado em julho foi puxada pela alta nos preços de motores, o que reflete as vendas de novos modelos e não deve se repetir nos próximos meses. A questão, de qualquer forma, é quanto tempo as empresas conseguirão segurar seus preços antes de repassa-los ao varejo. Para Joshua Shapiro, economista-chefe do MFR nos EUA, os empresários não tiveram ainda oportunidade de elevar seus preços devido à competitividade tanto na arena doméstica quanto externa. O resultado é que as margens de lucros estão diminuindo. A elevação de preços é uma das maiores preocupações do Fed, que tem elevado a taxa referencial de juros no curto prazo como forma de interromper a pressão inflacionária e controlar o crescimento econômico dos EUA. Os juros no país estão hoje em 3,5%, mas a expectativa é que cheguem nos 4,25% até o fim deste ano.