Título: Marcha contra Lula supera a de apoio
Autor: Mauro Zanatta e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2005, Política, p. A8

Crise Manifestação foi capitaneada por partidos da extrema esquerda por sindicatos de servidores

Um dia depois da manifestação de 10 mil estudantes, sindicalistas, sem-terra e sem-teto em defesa do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cerca de 15 mil integrantes do PSTU, Psol, PDT e PPS, dos movimentos sociais Coordenação Nacional de Lutas (ConLutas) e de entidades sindicais como Andes e o Sindilegis fizeram ontem uma marcha contra a corrupção e contra o governo na Esplanada dos Ministérios. O protesto "Fora Todos" foi uma resposta da "verdadeira esquerda" contra a manifestação "chapa branca" organizada pela União Nacional dos Estudantes, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e a Central Única dos Trabalhadores em favor de Lula. "Essa aqui é a real voz do povo, das ruas", disse o deputado João Batista Babá (Psol-PA), expulso do PT. Os manifestantes queimaram um boneco do presidente e gritaram em frente ao Palácio do Planalto: "Olê, olê, olê, olá, fora Lula!" e "Quero fora já daqui o Lula, o Congresso e o FMI!". O presidente não viu a manifestação porque estava em viagem ao Nordeste do país. Na terça, Lula recebeu os manifestantes a favor e fez promessas de "sinalizações" aos manifestantes para mudar aspectos de seu governo. Em maior número, os manifestantes contra o governo criticaram a corrupção, o atendimento às reivindicações dos trabalhadores, s reformas e a política econômica. De cima de um dos três trios elétricos, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) disse: "Queremos o fim dessa quadrilha e dessas gangues partidárias que tomaram de assalto o poder". O coordenador do ConLutas e presidente do PSTU, José Maria de Almeida, apontou a construção de um "terceiro pólo" diante da crise: "Não aceitamos ser confundidos com esta oposição de mentirinha formada pela direita, pelo PSDB e pelo PFL", disse. "É preciso pôr todos pra fora, porque PT, PSDB, PFL, o Congresso e o governo são todos iguais". Com bandeiras semelhantes de protesto, juízes, promotores e procuradores também realizaram manifesto contra a corrupção no país e pela ética na política. Mais de cem integrantes da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp) entregaram aos presidentes do Senado, do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal Superior Eleitoral e da CPI Mista dos Correios uma "Carta Aberta à Nação" na qual pedem urgente punição aos envolvidos em esquemas de corrupção. Além de pedir agilidade aos trabalhos, as entidades disseram que vão apresentar propostas nas legislações eleitoral, civil e penal para evitar fraudes futuras. "Queremos também um compromisso de que os fatos revelados pelas CPIs do Congresso terão seguimento e investigações sérias no Judiciário", disse o presidente da AMB, Rodrigo Collaço.