Título: Aumento da gasolina não compromete trajetória da inflação
Autor: Chico Santos e Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2005, Especial, p. A12

O provável reajuste dos combustíveis não preocupa os economistas que acompanham de perto a trajetória da inflação. Num cenário marcado por câmbio valorizado e a deflação de produtos agrícolas, um eventual aumento da gasolina não deverá ser suficiente para afastar significativamente o IPCA da meta perseguida pelo Banco Central (BC) neste ano, de 5,1%. Se houver um reajuste de 10% para o consumidor - um percentual muito elevado, que pressupõe um aumento na refinaria na casa de 20% -, o impacto sobre o IPCA seria de 0,4 ponto percentual. No caso do Unibanco, que estima um indicador de 5,3% para 2005, a previsão tenderia a subir para 5,7% se o aumento for nessa magnitude. Para o economista Adriano Lopes, do Unibanco, essa possibilidade não é preocupante para a condução da política monetária. Em primeiro lugar, segundo ele, por ser um choque de oferta, ou seja, algo que não é afetado diretamente por mudanças nos juros. Além disso, se a inflação ficar em 5,7% e não em 5,3%, ainda estará bem abaixo do teto da meta deste ano, de 7%. Lopes estima que os preços da gasolina ao consumidor estão defasados em 20% em relação às cotações no mercado internacional, mas diz que dificilmente a Petrobras vai tentar corrigir todo esse o atraso numa tacada. Em geral, mesmo quando os preços internos e externos ficam desalinhados por muitos meses - como neste momento -, a empresa prefere aumentos modestos. O economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, do grupo de conjuntura da Univesidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que poderá haver um reajuste da gasolina de 10% na refinaria, que tenderia a se traduzir num aumento de 5% para o consumidor. O impacto sobre o IPCA, segundo ele, seria de 0,2 ponto percentual. Sua previsão para o IPCA, de 5,4%, já inclui a expectativa desse reajuste de 5% dos preços na bomba. "Se não houver aumento da gasolina, a inflação vai ficar muito próxima da meta", afirma ele, acreditando que o indicador, nesse caso, ficaria em 5,2% ou até mesmo em 5,1%. Gomes Filho aposta num cenário bastante favorável para a inflação neste ano, mesmo que haja o reajuste dos combustíveis. Ele lembra que os preços agrícolas continuam em deflação, as cotações do aço mostram uma trajetória favorável e o câmbio segue em nível bastante valorizado. Com isso, Gomes Filho avalia que o eventual aumento de preços da gasolina não muda as perspectivas para a queda dos juros nos próximos meses. "O reajuste dos combustíveis seria uma notícia negativa em meio a vários notícias positivas para a inflação. Um aumento de preços isolado tende a ser absorvido rapidamente, não devendo contaminar a cadeia produtiva", afirma ele. Gomes Filho acredita que há espaço para o BC reduzir a Selic dos atuais 19,75% para 17,75% até o fim do ano. O economista Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados, projeta um IPCA de 5,4% neste ano, previsão que, segundo ele, "tem gordura" para acomodar um reajuste da gasolina de 10% na refinaria e de algo como 5% para o consumidor. Fenolio também avalia que não há motivos para se preocupar com o eventual aumento. Para ele, as notícias no front inflacionário são bastante favoráveis, e não vão se turvar se houver uma correção dos preços dos combustíveis.