Título: Grupo Cosan cada vez mais perto de faturar US$ 1 bilhão
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2004, Agronegócios, p. B10

Estratégia Após captar US$ 200 milhões, companhia sucroalcooleira planeja novas aquisições e parcerias

O Grupo Cosan concluiu na terça-feira captação externa de US$ 200 milhões, por meio de emissão de bônus no mercado. A operação faz parte do plano estratégico do grupo de se tornar a maior companhia de açúcar do mundo. O próximo passo planejado é fechar parcerias com fundos de private equity (que compram participações acionárias em empresas) e também com grupos internacionais de açúcar. Em entrevista ao Valor, Paulo Diniz, diretor de finanças da companhia, disse que o grupo quer se fortalecer com as parcerias para concretizar suas futuras aquisições. A meta da Cosan é saltar de um faturamento de US$ 700 milhões, previsto para a safra 2004/05, para US$ 1 bilhão em dois anos. Concluída esta última etapa, a maior empresa exportadora de açúcar do mundo deverá abrir o capital na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse). O início da incursão financeira do grupo foi considerado bem-sucedido. Em operação coordenada por Morgan Stanley e Credit Suisse First Boston, a Cosan conseguiu finalizar a captação de recursos com vencimento de cinco anos e juros de 9% anuais. Boa parte do dinheiro foi usado para alongar o endividamento. Segundo Diniz, 63% das dívidas - que somam, no total, R$ 302 milhões - eram de curto prazo. Com o alongamento da dívida para 2020, o grupo se tornou mais robusto e poderá atrair mais investidores, conforme o executivo. "Houve uma forte demanda dos investidores [seis vezes maior que o valor estipulado pelo grupo, de US$ 150 milhões]", acrescentou Diniz. De acordo com ele, 84% desses investidores são americanos, 11% europeus e 5% asiáticos. Contou a favor do grupo brasileiro sua boa reputação no mercado internacional. A classificação de risco atribuída pela agência Moody's foi Ba3 - um nível acima do rating B1, que é atribuído ao Brasil. Poucas empresas brasileiras têm classificação acima do rating Brasil. A Cosan está no mesmo patamar que o grupo Votorantim. Acima dessas duas empresas estão a Companhia Vale do Rio Doce e a Petrobras. Em 2000 o grupo Cosan começou sua escalada para se tornar a maior empresa de açúcar do mundo. Hoje é a segunda maior em volume de produção de açúcar - 3,6 milhões de toneladas (considerando a conversão de sua produção de álcool em açúcar), atrás somente da alemã Südzucker. O faturamento do grupo saltou de R$ 129 milhões na temporada 1999/00, quando tinha seis usinas em São Paulo, para R$ 2 bilhões, previstos para a safra 2004/05. Hoje, o grupo tem 12 usinas, incluindo uma refinaria de açúcar independente e duas refinarias anexas às empresa. Das 12 usinas, três são em parceria com o grupo francês Tereos (resultado da fusão acionária das francesa Béghin-Say e Union SDA). A Cosan também conta com estrutura portuária em Santos, investimento no qual a Tate & Lyle tem participação de 10%. A safra da Cosan está estimada em 28 milhões de toneladas, com produção de 2,3 milhões de toneladas de açúcar - maior que a safra de Cuba, Colômbia e Guatemala - e 1 bilhão de litros de álcool. No ano passado, o grupo decidiu que era o momento de abrir seu capital. Diniz, que era diretor financeiro da Tim, foi contratado por Rubens Ometto Silveira Mello, presidente da Cosan, para coordenar esta nova etapa da companhia no mercado financeiro. "Havia uma expectativa do mercado de que esta primeira etapa [captação externa] só seria realizada em três anos. Fizemos um trabalho de agente secreto para que as informações especulativas não vazassem no mercado e estragassem nosso negócio". Nos próximos meses, o grupo iniciará conversas com fundos de private equity e parcerias estratégicas internacionais. A Tereos poderá ser um potencial acionista. O grupo, considerado um dos maiores compradores do setor, manterá seu apetite por usinas do país. Segundo Ricardo Knoepselmacher, diretor-sócio da Angra Partners, assessoria financeira e de reestruturação de empresas, os agronegócios serão a nova rota dos fundos de private equity no Brasil. Knoepselmacher lembrou que esses fundos tiveram operações malsucedidas nos últimos anos no país. As perspectivas, agora, são de que as empresas agrícolas, sobretudo as sucroalcooleiras, que são classificadas como companhias com potencial de crescimento e poder de consolidação, têm chances de atrair esse tipo de capital.